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Vivi para contar: 'Esperamos pela morte a cada minuto', diz alauita que vive no Brasil sobre medo de perder família na Síria
2025-03-12
IDOPRESS
Forças sírias se posicionando na cidade de Qadmus,na província de Tartus,no domingo — Foto: SANA/AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 11/03/2025 - 20:20
Síria: Aisha pede atenção global à crise e minorias ameaçadas
A síria Aisha,vivendo no Brasil,compartilha seu temor constante pela família alauita na Síria,sob ameaça de violência e limpeza étnica após a queda de Bashar al-Assad. A nova autoridade,ligada ao jihadismo,intensificou os ataques a minorias,resultando em milhares de mortes. A ONU documenta execuções sumárias,enquanto Aisha apela por atenção global à crise e anseia por um futuro pacífico para seu país.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Quando a coalizão de grupos islamistas rebeldes derrubou Bashar al-Assad em dezembro passado,assumindo o controle da Síria,Aisha (nome fictício para preservar sua identidade) havia dado à luz sua filha mais nova,em Niterói,há apenas poucos dias. Apesar de estar a milhares de quilômetros de distância,o sentimento de alegria de carregar a bebê nos braços logo dividiu espaço com o temor diante do futuro de seu país,que deixou há três anos,sob a nova autoridade no poder,já que seus familiares — incluindo pais,irmãos e sogros — ainda estão lá.
Guga Chacra: Regime jihadista da Síria massacra minorias religiosasEntenda: Número de mortos em confrontos na Síria passa de mil,e civis são principais vítimas; Conselho de Segurança discutirá a crise
O medo de Aisha e de seu marido vem de sua origem alauita,minoria étnica que representa cerca de 10% da população síria e que,nas últimas semanas,tem sido alvo de uma onda brutal de violência,com denúncias de limpeza étnica por parte das forças do governo interino.
A violência atual escalou após apoiadores do ditador deposto atacarem,na quinta-feira passada,as forças de segurança em Jableh,na província de Latakia,reduto alauita e berço do clã Assad.
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Segundo o monitor de guerra britânico Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH),desde então,mais de 1.200 civis morreram nos confrontos,que também chegaram à cidade portuária de Tartus — a mesma de onde Aisha e o marido vieram com a filha mais velha,em 2022,ao fugir da guerra no país.
Aisha,que acompanha a situação pelos relatos diários de seus parentes e pelas redes sociais,relatou ao GLOBO como tem sido viver com a expectativa de acordar e não saber se vai ter notícia dos familiares que ainda vivem em seu país de origem,e apelou para que a situação dos alauitas seja divulgada.
“Quero que o que está acontecendo na Síria alcance o mundo inteiro. Está havendo uma limpeza étnica dos muçulmanos alauitas.
Nós somos um pequeno grupo étnico espalhado pelas cidades da costa síria. Mas depois que os extremistas islâmicos chegaram ao poder,eles emitiram centenas de fátuas [mandatos religiosos] para nos matar sem qualquer piedade.
A matança e o terrorismo que eles estão praticando contra nós são impensáveis e inimagináveis para qualquer pessoa normal.
A criminalidade atingiu um nível inconcebível. Todos os dias,milhares de execuções de crianças,mulheres e idosos são realizadas a sangue frio.
O cheiro de sangue,assassinato e cadáveres se espalha pelas ruas e não há como escapar. Não podemos atravessar o mar. Além disso,todas as cidades vizinhas são perigosas para a nossa comunidade,e nelas corremos risco de morte.
Não há leite para os bebês,nem comida. Todas as lojas estão fechadas.
Minha irmã mora em uma aldeia alauita e não pode sair de casa com medo de ser morta. Ela tem três filhos,incluindo um bebê que precisa de leite. Mas a maioria dos suprimentos acabou.
Esperamos pela chegada da morte a cada minuto. Ouvimos suas vozes,mas não podemos nos mover.
Tenho medo porque essa nova autoridade é filiada à al-Qaeda e à religião extremista (EI). Assad era um ditador,mas era secular e não permitia sectarismo ou preconceito em relação a qualquer religião,então estávamos bem.
Espero que a Síria volte a ser como era antes. Vivíamos juntos em paz. Somos um povo tolerante e bom.
Amo muito o Brasil e seu povo gentil que nos acolheu,mas tenho muita saudade da minha terra natal e da minha família. Espero vê-los vivendo em paz depois desses anos de guerra,mas não sei se poderei encontrá-los novamente.”
De acordo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU,foram documentadas “execuções sumárias” contra a minoria alauita que pareciam “ter sido realizadas com base sectária”. “Em uma série de situações extremamente perturbadoras,famílias inteiras — incluindo mulheres,crianças e indivíduos fora de combate — foram mortas,com cidades e vilas predominantemente alauítas sendo alvos em particular.”
*Aisha (nome fictício),em depoimento a Amanda Scatolini