Mais recentes
-
Alta nos acidentes com moto no Rio demanda mais ação da Prefeitura
-
Sob a sombra de Trump: oposição de centro-direita vence eleições na Groenlândia, e nacionalistas avançam, segundo a mídia estatal
-
Spotify distribuiu US$ 10 bilhões em pagamentos em 2024, o maior da história da indústria musical; entenda
-
Carminha, Perpétua, Nazaré e outras vilãs de volta: atrizes vão reviver personagens em comemoração dos 60 anos da Globo
‘Ainda sinto como se tivesse uma faca enfiada nas costas’, diz mulher que teve o cabelo preso no sugador da piscina; veja o depoimento
2025-03-12
HaiPress
Antes e depois de Flaviane Dias Cumerlato — Foto: Arquivo pessoal
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 11/03/2025 - 13:50
Mulher Sobrevive a Acidente em Piscina e Defende Segurança Rigorosa
Flaviane Dias Cumerlato,em entrevista ao GLOBO,detalha o acidente que quase a matou quando seu cabelo ficou preso no sugador de uma piscina em Capão da Canoa. O incidente resultou em fraturas na coluna cervical e paralisia parcial. Após cirurgia e longa recuperação,ela compartilha seu sofrimento contínuo e a importância de medidas de segurança para evitar tragédias semelhantes.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
Vivi um verdadeiro milagre e acredito que exista um propósito de usar essa minha história para alertar outras pessoas. Moro em Canela,cidade ao lado de Gramado,no Rio Grande do Sul,e decidi passar as férias no litoral junto com meu marido e meus quatro filhos. Alugamos uma casa em Capão da Canoa por dez dias. Gostamos tanto de lá que decidimos estender o tempo. Alugamos então outra casa no mesmo condomínio. Foi lá onde tudo aconteceu.
Ao fecharmos o negócio do aluguel temporário,a dona da segunda casa me enviou todas as normas do local. Sobre o uso da piscina,constava que o piscineiro fazia a limpeza duas vezes por semana. No segundo dia no imóvel,um sábado 1º de fevereiro,fomos visitar as praias da região e voltamos por volta das 19 horas da noite. Toda a família entrou na piscina,era uma noite bem quente. Passado um tempo,meu marido saiu para dar banho nos nossos filhos mais novos,de 9 e 4 anos. Alguns minutos depois,resolvi sair. Mas antes de ir para a borda da piscina,joguei minha cabeça para trás em direção à água para molhar o cabelo. E foi então que uma força intensa sugou e meus fios ficaram presos no sugador da bomba que fica na lateral da piscina.
Meu cabelo,que é longo,estava completamente preso. Instantaneamente fiquei completamente submersa. Só passava pela minha cabeça que eu ia morrer afogada e que meus filhos iam me ver saindo sem vida.
Em um determinado momento consegui fazer impulso para cima,botar a cabeça para fora e gritei socorro. A força da bomba me puxou de novo. Meu marido ouviu meu grito e achou que era brincadeira. Ele chamou meu nome para confirmar e não respondi. Desconfiou,me viu,imediatamente começou a puxar meu corpo para fora. Mas uma força inimaginável me arrastava para baixo.
Forma dois minutos de agonia. Nesse tempo,ele conseguiu colocar meu rosto para fora. Gritei: ‘Corta! Corta! Corta!´,mas ele não sabia onde teria uma tesoura. Ele continuou me puxando pelo cabelo com toda a força que tinha e finalmente me soltei. Me levou para longe de onde eu estava. Eu não conseguia me mexer sozinha.
Fui levada nos braços por ele até dentro de casa. Deitada na cama percebi que havia algo muito errado. Quando o SAMU chegou,fui imobilizada e levada para o hospital da cidade. Eu não sentia o braço direito,o pescoço nem as costas. Também não sentia os dedos das mãos. Os primeiros exames deram o diagnóstico: a vértebra C5 estava fraturada,as C6 e C7 quebradas,o lado direito paralisado.
O médico explicou que os ossos da cervical se soltaram,se afastaram e depois se entrelaçaram. Ele me olhou e disse: ‘Qualquer mínimo movimento pode fazer com que os ossos interfiram na sua medula e você pode ficar paraplégica’.
Precisei aguardar por 12 horas entre os exames e a minha transferência para um hospital onde eu pudesse ser operada. Mais especificamente as piores 12 horas dos meus 33 anos de vida. Sentia dor,dor,dor. Lembro que falei para meu marido,que estava comigo o tempo todo,que estava suportando aquilo tudo pelas crianças,e que se fosse por mim eu preferia ter morrido,porque era uma dor insuportável. E realmente talvez eu não estivesse viva se não fosse pela força que tive ao pensar neles.
Fui transferida para um hospital em Porto Alegre,uma viagem que duraria duas horas e meia mas levou muito mais. O carro tinha que ir devagar,eu não podia fazer qualquer movimento na cervical. Na ambulância fui imobilizada por mãos e objetos. Tinha um médico,inclusive,segurando meu pescoço. Era muito grave.
Não conhecíamos ninguém no litoral,meu marido ficou com nossos filhos menores,quem foi comigo foi minha filha de 14 anos. No hospital em Porto Alegre recebi morfina,dormi praticamente o tempo todo. Fui submetida a uma cirurgia na cervical seis dias depois. Logo depois do procedimento,voltei a sentir alguns movimentos,mas fiquei internada por mais cinco dias no hospital. Quando tomei o primeiro banho no hospital,a enfermeira tentou me pentear e parou. Saíam pedaços de cabelo inteiro. Perdi cerca de 40% dos meus fios.
Voltei para casa no dia 11 de fevereiro. Muita coisa mudou na minha rotina. Faço fisioterapia três vezes na semana,vou ao massoterapeuta duas vezes por semana e uso o colar (colar cervical) quando estou com muita dor ou para andar de carro. Meu couro cabeludo dói muito ainda.
No início cheguei a pensar que a culpa do acidente era minha,de estar com o cabelo solto. Mas a culpa,na verdade,era de não ter uma proteção no local de sucção da bomba para não sugar o cabelo. Acredito que a bomba ligou de forma automática. Ela era provavelmente programada para algum horário,por ter um temporizador. Nada disso nos foi comunicado e agora sei que a lei obriga que todo sugador tenha uma tela para prevenir acidentes como o meu de acontecerem. Uma coisa tão simples que pode salvar vidas.
O acidente adiou planos de vida. Tínhamos uma viagem marcada para os Estados Unidos,era meu sonho conhecer o país. Eu tinha acabado de entrar na faculdade,no curso de psicologia e ainda não consegui ir às aulas.
Entrei em num estado depressivo porque tinha esperanças de que após cirurgia ia parar de sentir dor,mas todo o processo é muito lento,não tem como ser do dia para noite. Os ossos se recuperam lentamente. Tomo antidepressivos para conseguir falar do dia do meu acidente.
Já passou a maior parte do sofrimento,mas a dor não vai embora. Ainda sinto como se tivesse uma faca enfiada nas costas o tempo todo. Não sinto meus dedos. Isso causa uma angústia.
Além de mim,a mais afetada por tudo que aconteceu é a minha filha mais nova. Ela não consegue sair de perto de mim,tinha medo de ir para a escola e eu sumir de novo. Agora,ela dorme comigo e precisou voltar a usar fraldas porque faz xixi a cada 3 minutos. Ela não tem nada diagnosticado,é uma coisa psicológica,segundo a médica.
Acredito que sou um caso raro,porque normalmente é difícil alguém sair com vida de uma situação assim. Penso que se meu relato conseguir salvar pelo menos uma pessoa,uma criança,já vai fazer valer a pena eu conseguir contar isso agora.
Não sei como será quando eu vir uma piscina novamente. Acredito que será difícil voltar a entrar em uma. Mas mergulhar? Nunca mais terei coragem.
*Em depoimento à repórter Raquel Pereira