Mais recentes
-
Portugal terá terceira eleição em três anos se governo for derrubado hoje
-
Ataque a minoria na Síria exige reação mundial
-
Champions: duelos que definirão primeiros classificados às quartas começam com protagonismo de convocados à seleção
-
Ex-presidente filipino, Duterte é preso por crimes contra a humanidade
Trump faz renascer riscos que todos julgavam superados
2025-03-06
IDOPRESS
O presidente dos EUA,Donald Trump — Foto: Win Mcnamee/Getty Images via AFP/04-03-2025
No primeiro pronunciamento ao Congresso desde a posse em janeiro,Donald Trump demonstrou estar disposto a cumprir suas piores ameaças de campanha. Em discurso de cem minutos,pintou um mundo de fantasia em que se apresenta como salvador de um país em apuros. Na realidade,seu governo se tornou a maior fonte de incerteza e tensão do planeta. Trump fez renascer riscos que todos acreditavam superados. Não bastasse o alinhamento à Rússia (em detrimento da Ucrânia) que já lançou os países europeus numa nova era de rearmamento,não bastasse o caos imposto ao setor público com cortes inconsequentes ou ilegais,ele deflagrou uma guerra comercial cujos desdobramentos serão nocivos para a economia global e para seu próprio país.
Em fevereiro,anunciou tarifas sobre aço e alumínio. Nesta semana,os produtos importados de Canadá e México começaram a pagar 25% de alíquota na alfândega. A taxa sobre produtos chineses subiu 20 pontos percentuais. Em resposta,China e Canadá retaliaram. Depois do naufrágio do mercado acionário,autoridades americanas afirmaram ser viável um acordo para reduzir as tarifas (as montadoras obtiveram um adiamento). Trump,contudo,se mostra irredutível — e citou o Brasil entre os alvos. Na primeira semana de abril serão impostas barreiras a produtos agrícolas. É dado como certo que o etanol brasileiro estará na lista.
Estados Unidos: 'Estamos apenas começando',diz Trump em primeiro discurso ao Congresso desde retorno à Casa Branca
Com seu mercantilismo primitivo,Trump pretende zerar o déficit comercial,usar a receita das tarifas para financiar o governo e retornar a um passado idílico caracterizado pela força industrial. Nenhum economista sério acredita que isso faça sentido. Ao contrário,o custo será alto,não apenas na forma de inflação,mas em perda de produtividade e má alocação do capital. A guerra comercial prejudicará o crescimento global e a eficiência da própria economia americana,com menos oportunidades para investimentos.
É verdade que a tarifa média sobre importados nos Estados Unidos é baixa,cerca de 3%. Mas não destoa da cobrada noutros países ricos: 2% na Austrália,4% no Canadá,Japão e Reino Unido,5% na União Europeia (UE). No Brasil,os produtos americanos pagam na média 12,4%,mas 48% passam pela alfândega isentos,e 15% são taxados abaixo de 2%. E os americanos são superavitários no comércio bilateral.
Estados Unidos: 'Silêncio' de democratas em discurso de Trump confirma que partido ainda procura seu papel como oposição
Nas próximas semanas,o governo brasileiro precisa adotar uma estratégia sofisticada. Negociar a queda de tarifas em alguns setores poderá ser benéfico. Os consumidores brasileiros,reféns de produtores locais caros e ruins,têm muito a ganhar com um leque maior de opções baratas. Mas a retaliação não deve ser descartada. Boa parte do que o Brasil vende aos Estados Unidos são produtos industrializados. Encontrar mercados alternativos não será simples. O novo panorama comercial torna ainda mais urgente acelerar a implementação de acordos de livre-comércio,e não apenas com a UE.
Para o agronegócio,as oportunidades são mais evidentes. Em resposta a Trump,os chineses elevaram tarifas sobre frango,trigo,milho,algodão,soja,porco,carne,frutas,vegetais e laticínios americanos. Com isso,o exportador brasileiro levará vantagem na disputa pelo imenso mercado chinês. Haverá na certa situações semelhantes noutros países. Ao promover o protecionismo,Trump pagará um preço alto. Para o Brasil,felizmente o mundo não se resume aos Estados Unidos.