Dona do grito de guerra da UPM, a diretora de carnaval Lara Mara encarna o espírito do empoderamento feminino

2025-03-03 HaiPress

Lara Mara,diretora da Unidos de Padre Miguel,ao lado do pai Cícero Costa,diretor financeiro da escola — Foto: Vera Araújo / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 02/03/2025 - 22:07

Lara Mara: Liderança Feminina Revoluciona Carnaval na UPM

Lara Mara Rodrigues da Costa,diretora de carnaval da Unidos de Padre Miguel,destaca-se por seu grito de guerra poderoso e seu papel de liderança no empoderamento feminino. A jovem,que assumiu a direção da escola aos 18 anos,é conhecida por sua paixão pela UPM e por honrar a cultura africana em seus enredos. Lara Mara equilibria feminilidade e autoridade,desafiando normas tradicionais em cargos historicamente dominados por homens.

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A voz delicada e feminina de Lara Mara Rodrigues da Costa,em entrevista ao GLOBO,não lembra em nada a da mulher que comanda o carnaval da Unidos de Padre Miguel (UPM). Mas ela garante: quem dá o grito potente à frente da "boi vermelho",como a escola é conhecida na Vila Vintém,comunidade de Padre Miguel,na Zona Oeste do Rio,é ela — algo facilmente comprovado em vídeos postados em suas redes sociais. Lara Mara admite que até ela se assusta com sua transformação ao soltar o berro que virou bordão:

— Vamos botar para foder,porra!

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A mais jovem diretora de escola de samba estreou no desfile do Grupo Especial aos 20 anos,sendo a primeira a entrar na Sapucaí na noite deste domingo (02/03). Para a ocasião,Lara Mara conta que mudou de ideia na última hora em relação à roupa: ao invés de homenagear os orixás Oxalá e Iemanjá,que a guiam,resolveu ir com as cores daquele que protegia sua avó:

— Eu sou assim mesmo,às vezes,mudo de opinião na última hora. Resolvi homenagear o orixá da minha avó,que é Oxum — contou,já às vésperas de entrar na Sapucaí. A roupa escolhida foi um vestido dourado,coberto de búzios.

Sua maior paixão,segundo ela,é a escola da Vila Vintém. A relação começou cedo: Lara Mara cresceu dentro da quadra da vermelha e branco. Seu pai,Cícero Costa,era um dos dirigentes da agremiação quando ela nasceu.

— Há fotos minhas no colo da minha mãe,com dois meses de vida,na UPM. Fui crescendo lá dentro da quadra. Sempre fui muito curiosa. Meu pai me levava e eu queria saber de tudo. Queria ver o carnavalesco desenhando,entender a história do enredo,a cultura africana. Eu perguntava tudo. "O que é isso? Para que serve isso?". Eu me apaixonei por aquele mundo. Eu era uma criança chata — brincou.

Ela passou pela ala das crianças,cogitou ser sambista e até porta-bandeira,mas foi nos bastidores que encontrou sua vocação. Enquanto muitos jovens sonham em tirar a carteira de habilitação,ela queria dirigir a escola:

— Aos 17 anos,comecei a tomar decisões,mesmo sem ter assumido oficialmente o cargo de diretora. Meu pai me disse que,quando eu fizesse 18,assumiria. Achei que fosse brincadeira,mas não era — contou. Até hoje,ela não tem habilitação.

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O grito que virou bordão

O bordão surgiu em um momento de tensão na escola. Lara Mara,conhecida por perseguir a perfeição nas apresentações,estava contrariada com algo e,no calor do momento,soltou o grito.

— Eu nem sei o que acontece. Esse é o poder que o carnaval tem de transformar a gente. No dia a dia,sou tímida,não falo assim. Mas nessa época do ano,eu viro essa potência,me transformo. Quando vi o primeiro vídeo com o grito de guerra,fiquei assustada. Mas aí o pessoal gostou e passou a me cobrar — relembrou.

Outra marca registrada da diretora é a vaidade. Vestidos,penteados elaborados e maquiagem fazem parte da sua identidade. Com isso,suas postagens nas redes sociais passaram a atrair seguidores e a influenciar no segmento da beleza. Mas,quando o assunto é a escola,Lara Mara é firme em suas decisões — principalmente quando precisa dizer "não".

— Meu cargo,geralmente,é ocupado por homens. Mas eu não preciso perder minha feminilidade para me encaixar nesse mundo. Uso vestido,maquiagem,penteado... Muitas mulheres em cargos como o meu se sentem oprimidas pelo machismo e,até,sofrem assédio. Eu penso diferente. Independente de como a mulher se veste ou se porta,ela merece respeito. A gente não precisa parecer "moleque macho" para ocupar um cargo que dizem ser de homem. Porque ninguém disse que é um cargo de homem — analisou.

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"Sempre foi líder"

Fotógrafo da Unidos de Padre Miguel há 12 anos,Diego Mendes conhece Lara Mara desde os oito anos. Ele lembra que,ainda criança,ela já demonstrava liderança.

— Ela se posiciona sobre tudo. É impressionante! O poder de decisão dela vai de coisas simples às mais complexas. Ela tem muita maturidade — comentou.

Foi ela quem bateu o martelo para a escolha do enredo "Egbé Iyá Nassô". A história resgata a trajetória da princesa africana Iyá Nassô,que veio ao Brasil como escravizada e lutou contra a perseguição religiosa,fundando a Casa Branca do Engenho Velho,o primeiro terreiro de candomblé do país,na Bahia.

— A comunidade pediu muito para unir a cultura africana e o poder matriarcal no enredo. Essa junção representa a Vila Vintém,onde há muitas mulheres fortes — explica Lara.

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O amor pela UPM

A paixão pela escola está marcada na pele: Lara Mara tatuou o símbolo da Unidos de Padre Miguel na panturrilha direita,junto à frase "O samba é o remédio da alma".

Ela comanda uma escola com 3 mil componentes e garante conhecer cada um pelo nome. "É uma família",define.

Após 52 anos,a UPM volta ao Grupo Especial. Até o ano passado,a escola disputava a Série Ouro,onde ficou em segundo lugar cinco vezes,batendo na trave do acesso. Em uma das apurações,Lara Mara lembra que mandou todos saírem do Sambódromo,por entender que o título deveria ser da Unidos de Padre Miguel.

A escola também se diferencia por não ter uma rainha de bateria famosa. E Lara pretende manter assim:

— Eu nunca vou colocar uma famosa à frente da nossa bateria. Esse lugar é da mulher da Vila Vintém. Eu sou muito de opinião e sempre soube me impor. Mas também respeito as outras pessoas,né?

"Não sou meu avô"

Perguntada se sua postura de comando tem influência do avô,Celso Luís Rodrigues,o Celsinho da Vila Vintém — ex-chefe do tráfico,que cumpriu pena e está em liberdade condicional —,Lara Mara responde sem rodeios:

— Eu sei das coisas que ele fez,não sou hipócrita. Mas,graças a Deus,minha relação com ele sempre foi de avô e neta. Ele é super carinhoso e atencioso comigo. Até se preocupa com minha exposição no carnaval. Sempre fala: "Minha filha,você quer ser advogada e tal". Mas ele nunca interferiu nas minhas decisões.

Ela também lamenta o peso do sobrenome.

— Infelizmente,as pessoas me vinculam a ele e eu acabo sofrendo por algo que não tem nada a ver comigo. Acho que o maior sonho da minha vida é esse: que as pessoas não me associem ao meu avô — concluiu.

Veja a ordem dos desfiles da primeira noite do Grupo Especial

Unidos de Padre Miguel (22h)Imperatriz Leopoldinense (entre 23h30 e 23h40)Viradouro (entre 0h50 e 1h10)Mangueira (Entre 2h e 2h20)

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