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'Deserto' no Rio: veja os bairros onde não caiu nenhuma gota de chuva em fevereiro
2025-02-28
IDOPRESS
Roseiral do Jardim Botânico,ressecado,em meio a áreas mais verdes do arboreto,ligou o sinal de alerta: excepcionalmente,a administração do espaço,atração turística concorrida na cidade,passou irrigar as plantas três vezes por dia — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 27/02/2025 - 22:26
Fevereiro de 2025 é o mais seco da história no Rio de Janeiro
O mês de fevereiro de 2025 se tornou o mais seco da história do Rio de Janeiro,com bairros como Jardim Botânico,Copacabana e Tijuca não registrando nenhuma chuva. A média pluviométrica foi de apenas 0,6mm,muito abaixo dos 123,3mm habituais. A falta de precipitação,causada por bloqueios atmosféricos,está impactando a vegetação e não aliviando o calor intenso.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Fevereiro terminará como o mês mais seco já registrado no município do Rio. Em alguns bairros,como no Jardim Botânico,não teve chuva durante o mês inteiro. A média de chuva não passou de 0,segundo o sistema Alerta Rio,da prefeitura. A menor precipitação na cidade para qualquer mês desde o início da série histórica,em 1997,foi também uma fração ínfima da média de fevereiro,que é de 123,3mm — ou 205 vezes o registrado este ano. O Brasil tem sofrido com ondas de calor e donos quentes (bloqueios atmosféricos),que afastam a chuva. Mas o Rio parece sob o efeito de um domo só seu. Durante o período em que até aconteceram chuvas isoladas nos demais municípios da Região Metropolitana,na capital não caiu quase nenhuma gota.
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A falta de chuvas pode até deixar o mar com águas de Caribe,mas aumenta a sensação de calor,pois são os temporais de verão que ajudam a aliviar a temperatura. A umidade,que aumenta essa sensação,tem estado de média a alta. É forte para causar grande sufoco,mas não o suficiente para romper o bloqueio e resultar em chuva.
— É a primeira vez que registramos um mês com menos de 1mm de chuva no município. Este fevereiro foi o mês mais seco de nossa série histórica,realmente impressiona — afirma a meteorologista-chefe do Alerta Rio,Raquel Franco.
Estiagem severa
Dados da empresa de meteorologia e oceanografia AtmosMarine mostram que alguns bairros não receberam uma só gota de chuva durante todo o mês de fevereiro. Foi o caso até mesmo do Jardim Botânico,bairro conhecido pelos altos índices pluviométricos. Também estão na lista da chuva zero Copacabana,Tijuca,Grajaú,Barra da Tijuca,Vidigal,Rocinha e Sepetiba. Os “maiores” índices registrados pela AtmosMarine foram na Grota Funda,com míseros 3mm,e Bangu,que recebeu 2,2mm.
Até hoje,os menores índices de chuva do município,segundo o Alerta Rio,tinham sido registrados em abril e maio do ano passado e no verão de 2014/15,quando ocorreu uma grande crise hídrica no Sudeste.
— A marca histórica de fevereiro chama mais atenção ainda porque o mês faz parte da estação chuvosa. Os meses mais secos costumam ser os de inverno,quando a baixa precipitação não incomoda tanto porque a temperatura é normalmente mais baixa — diz o diretor da AtmosMarine,o meteorologista Ronaldo Palmeira.
O mar caribenho,de águas cristalinas,faz contraste com um índice de chuva que está mais para regiões de deserto. No Saara,por exemplo,o índice foi de 22mm neste fevereiro. E no Atacama,o deserto mais seco do mundo,2mm.
Além do calor,a falta d’água tem castigado a vegetação. O chão da Floresta da Tijuca está seco e os gramados dos parques da cidade,esturricados. Só não tem faltado água para abastecimento porque esta vem de fora do município,do Sistema Guandu.
Com 0,6mm por metro quadrado — a medida usada para a precipitação — se consegue no máximo regar um vasinho de planta ou tirar um pouco da poeira da calçada em frente de casa.
De forma geral,tem chovido bem menos no Estado do Rio do que no vizinho São Paulo. O motivo é o já conhecido bloqueio causado por um anticiclone que estagnou sobre o Brasil e não deixa as frentes frias chegarem ao Rio.
Mas esse fenômeno sozinho não explica o domo carioca. Na verdade,já há algum tempo pesquisadores do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) observam que nuvens de chuva parecem se desintegrar sobre a cidade sem despejar uma gota.
Uma explicação seria a combinação de ilha de calor urbana com a geografia complexa do Rio,frisa o professor de meteorologia da UFRJ Wallace Menezes. Ele diz que esse cenário começa a ser investigado,mas por enquanto a situação da cidade segue sob mistério.
Entre outras peculiaridades,no Rio nem as chuvas isoladas — aquelas de fim de dias quentes,não associadas a frentes frias — têm caído. Chove em todo o entorno,mas na Cidade Maravilhosa,nem uma gota. São Gonçalo e municípios da Baixada Fluminense,registraram chuvas isoladas nos últimos dias.
— As nuvens até se formam,mas não chega a chover — diz Raquel Franco.
Nenhum meteorologista se arrisca a prever quando a chuva virá para o Rio. O carnaval vai ser de seca. A meteorologista do Alerta Rio avisa que a primeira quinzena do mês que começa amanhã tem previsão de chuva abaixo da média. Ou seja,ainda sem as águas de março.
Pode ser que temporais isolados deem o ar da graça,mas chuvas mais consistentes mesmo,só quando alguma frente fria maior conseguir romper o bloqueio,que tem se mostrado extremamente poderoso e persistente.
Este 2025,um ano sem os fenômenos El Niño ou La Niña para levar a culpa pelo clima em desequilíbrio,tem superado as piores expectativas no Brasil e no mundo. O ano mal começou e janeiro já foi o janeiro mais quente da História. Fevereiro,segundo projeções do serviço europeu do clima Copernicus,poderá figurar também entre os mais tórridos.
Jardim Botânico irrigado
Vegetação do Jardim Botânico sofre sem chuva em fevereiro — Foto: Divulgação/Jardim Botânico
Ao longo de fevereiro,o arboreto,a área verde do Jardim Botânico,tem sido irrigado três vezes por dia.
— A administração percebeu a diferença no estado das plantas,está tudo muito seco. Este mês,excepcionalmente,estamos molhando todo o arboreto. Às vezes,em tempo de chuva,a irrigação nem chega a ser feita — explica Marcia Faraco,diretora de Conhecimento,Ambiente e Tecnologia do Jardim Botânico.
*Colaborou Nathan Martins,estagiário sob supervisão de Leila Youssef.