'Ainda estou aqui': diretor de arte revela segredos do filme brasileiro indicado ao Oscar

2025-02-27 HaiPress

Imagem do Leblon da família Paiva e sua versão em 'Ainda estou aqui' — Foto: Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 26/02/2025 - 19:58

"Segredos de 'Ainda estou aqui': Detalhes da Direção de Arte Revelados"

Diretor de arte revela segredos do filme brasileiro indicado ao Oscar "Ainda estou aqui". Detalhes sobre a recriação da casa dos personagens e a atmosfera do longa,incluindo a meticulosidade na reconstrução de cenários e objetos de época,são destacados,mostrando o trabalho minucioso para criar uma imersão autêntica e impactante.

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De passagem pela Urca,uma ex-moradora do bairro na Zona Sul carioca decidiu ver sua antiga casa. Levou um susto. O portão automático havia sido trocado por um portãozinho de ferro,os muros externos tinham perdido as grades,o terraço se convertera em área fechada,as fachadas pareciam sujas e,pelo que que se via de fora,a cozinha high-tech tinha sido depenada. Mais tarde,ela entendeu: o imóvel tinha sido reformado para servir de cenário ao filme “Ainda estou aqui”,de Walter Salles.

— Destruí e envelheci a casa inteira (risos). Só fiz meu trabalho — diz o diretor de arte do longa,o argentino Carlos Conti,numa videochamada de Paris,onde vive desde os anos 1970.

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Era a parte concreta de um trabalho que começou a ser imaginado em 2021,quando Walter convidou Conti para conceber o visual de seu novo projeto. Os dois,perfeccionistas declarados,já haviam trabalhado juntos e se entrosado em “Diários de motocicleta” (2004) e “Na estrada” (2011).

Entre várias tarefas,coube ao veterano diretor de arte,há quatro décadas na função,tornar a casa da Urca o mais parecida possível com outra,já desaparecida,do Leblon. O lar onde em 1971 viviam o casal Rubens (Selton Mello) e Eunice Paiva (Fernanda Torres) e seus cinco filhos — cuja história,marcada pela ditadura militar,é contada no filme indicado a três Oscars.

'Ainda estou aqui': filme reproduz cenários reais do Rio e comércios que marcaram a cidade

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Casa onde “Ainda Estou Aqui” foi filmado fica na Urca,Zona Sul do Rio — Foto: María Magdalena Arréllaga

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A original moradia da família Paiva na Zona Sul ficava na Av. Delfim Moreira 80,esquina com a Rua Almirante Pereira Guimarães — Foto: Reprodução/Facebook

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Família Paiva,à esquerda,e o elenco que interpretou a família no filme 'Ainda estou aqui' — Foto: Reprodução

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Selton Mello,Fernanda Torres,Valentina Herszage e elenco rodaram cenas na Confeitaria Manon,que foi aberta nos anos 1940 — Foto: Divulgação

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Confeitaria Manon,onde elenco rodou cenas como se fosse a Chaika de Ipanema — Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo

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A cenografia se inspirou no antigo restaurante/lanchonete Chaika,que fechou após pegar fogo em 2014 — Foto: Reprodução/Facebook

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Praia do Leblon foi cenário de algumas cenas do longa-metragem — Foto: Divulgação

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Vista da Praia do Leblon para o morro Dois Irmãos — Foto: Fernando Quevedo

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Nas cenas que reproduziam DOI-Codi,atores estavam no Instituto Municipal Nise da Silveira,no Engenho de Dentro,Zona Norte do Rio — Foto: Sofia Paciullo/Divulgação

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Instituto Nise da Silveira,onde foram rodadas cenas de 'Ainda estou aqui' como se fossem no Doi-Codi,na Tijuca — Foto: Guilherme Leporace

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1º Batalhão da Polícia do Exército,localizado na Tijuca. Neste prédio funcionou o DOI-CODI,e nas salas localizadas neste andar eram realizados os interrogatórios a presos políticos — Foto: Marcia Foletto

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Colégio Sion,no Cosme Velho,foi onde filhos da Família Paiva estudaram e serviu de cenário real no filme — Foto: Gustavo Stephan

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No filme,Fernando Alves Pinto como o funcionário de banco de 'Ainda estou aqui' — Foto: Divulgação

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Centro Cultural Light,no Centro do Rio — Foto: Luciana Leal

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Túnel Rebouças foi cenário de sequências onde Vera (Valentina Herszage) é revistada — Foto: Divulgação/Marcelo Piu

Praia do Leblon,Túnel Rebouças,Livraria Argumento e o antigo restaurante Chaika,em Ipanema,compõem a lista

Jogo de memória

Marcelo Rubens Paiva,autor do livro homônimo que inspirou o longa,e suas irmãs,Vera,Eliana,Ana Lúcia e Beatriz,foram consultores mais que especiais na pré-produção,contribuindo com recordações e fotos.

— Cada filho lembrava a casa de uma maneira,os detalhes variavam. Mas penso que chegamos a um consenso,todos adoraram o resultado final — recorda Conti em seu português com sotaque franco-portenho.

Desse jogo de memória resultaram a decoração,os móveis,os carros,os discos,os livros,as fotos e até a praia que surgem em “Ainda estou aqui”. Foi um trabalho árduo de reconstituição,calibrado por escolhas estéticas pessoais,assume o diretor de arte.

— Um dos maiores elogios que tenho recebido é que não há uma sensação de distância. Você não vê um filme de época,você entra naquela época. Você é convidado a entrar naquela casa,conviver com aquela família. Tem muito trabalho para causar esse efeito natural —um resultado que não seria possível,diz Conti,sem as produtoras de arte Paloma Buquer e Tatiana Stepanenko e a produtora de objetos Laura Shalders,que tinham como referência desenhos de Maud Gircourt.

Carlos Conti,diretor de arte — Foto: Divulgação

Enquanto não embarca para a Inglaterra para seu próximo trabalho,a sexta colaboração com a cineasta britânica Sally Potter,Conti se prepara para o Oscar. Ele vai assistir em casa,na França,onde a transmissão começa já na madrugada de segunda-feira,3 de março. Mas,tendo na sala uma pintura que mostra o Pão de Açúcar e,no currículo,alguns desfiles pela Beija-Flor,ele não tem dúvidas de onde gostaria de estar:

— No Sambódromo do Rio! Se dá certo,se Walter ou Fernanda Torres ganharem,imagina a festa.

A seguir,o diretor de arte destaca alguns alguns aspectos de seu trabalho em “Ainda estou aqui”.

‘Foi mais trabalhoso,mas deu certo’

“A ideia inicial era fazer as cenas da casa da família Paiva em estúdio. Mas Walter acabou chegando à conclusão de que seria melhor adaptar uma casa real e usá-la como cenário. Achamos na Urca uma casa muito parecida com a que os Paiva moravam no Leblon. De frente para a Baía de Guanabara,facilitava para encaixar as cenas de praia. Mas estava novinha,tudo moderno,era preciso muita reforma. Walter me perguntou: ‘Você acha que vai dar certo?’ Eu disse: ‘Se o proprietário autorizar destruir a casa,sim (risos). Reformar a casa acabou sendo quase mais trabalhoso do que fazer tudo no estúdio. Mas penso que deu certo.”

Planta baixa da casa usada para "Ainda estou aqui" — Foto: Reprodução

‘Parecia reality show de reforma’

“Parecia reality show de reforma (acima,a planta baixa do primeiro andar da casa já com a disposição para o filme). Isolamos a peça da frente,que nem é usada no filme. Trocamos as janelas,separamos metade da sala para ser o escritório do Rubens,no segundo andar derrubamos paredes para fazer o quarto dos pais. Tinha uma parte aberta na parte de cima que nós fechamos para ficar mais parecido com a casa original. Por fora,passei uma tinta para envelhecer a casa inteira. Depois,‘desreformamos’. Quando entregamos a casa,estava tudo igual. Inclusive teve umas palmeiras que saíram e voltaram.”

Cozinha dos artistas

“A cozinha era toda moderna. Tiramos tudo,deixamos ‘de época’. Fabricamos armários de madeira e fórmica sob medida,conseguimos azulejo amarelinho liso que se usava nos anos 1960,conseguimos um fogão antigo. Que foi muito usado. Isso porque,em ‘Ainda estou aqui’,o Walter fez essa coisa inédita na carreira dele: o elenco ficou ensaiando um mês e meio no próprio cenário antes de começar a filmar. Enquanto a gente ia reformando e mobiliando a casa,os atores já estavam ensaiando lá. Nesse processo,a cozinha foi uma das primeiras peças a ficar pronta. Então,se alguém queria fazer um chá,alguma coisa,a cozinha estava à disposição.”

A cozinha imaginada e como ficou — Foto: Reprodução

Sala de ‘start’

“Os filhos de Rubens e Eunice contaram tudo de que se lembravam da casa do Leblon. Acontece,porém,que as memórias de uns eram um pouco diferentes das dos outros. Foi interessante falar com cada um e misturarmos todas essas ideias. A sala,por exemplo,é uma grande construção em cima das recordações de cada um. Mas isso era um ponto de partida,um ‘start’. Eu repetia: ‘Estamos fazendo cinema,tem que funcionar na tela,a câmera precisa circular. Temos uma cena de dança com umas 20 pessoas dentro de casa: precisamos de espaço!’ No final,mesmo com algumas liberdades criativas,os filhos adoraram a casa,se sentiram transportados.”

Desenho da sala de estar e cena que se passa naquele ambiente — Foto: Reprodução

Na escuridão do DOI-Codi

“Fizemos muita pesquisa de imagem,inclusive em arquivos de outros países da América do Sul que passaram por regimes autoritários,para criar o cenário do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna,para onde agentes da ditadura levaram Rubens Paiva em 20 de janeiro de 1971 e onde ele foi torturado e morto). Na tela vemos um misto de locações reais com estúdio. Construímos,as celas com paredes removíveis,para poder colocar a câmera onde fosse necessário. Para contrastar com a casa dos Paiva,muito iluminada,criamos ambientes bem escuros. Mas com o chão iluminado: em muitos depoimentos,surge a imagem do chão sempre sendo lavado. Os militares não queriam deixar manchas de sangue.”

DOI-Codi — Foto: Reprodução

'Um mês de trabalho para alguns segundos'

“Quando Eunice é presa no DOI-Codi,mostram para ela um álbum com fotos,lembra? Ela é obrigada a identificar pessoas. Então: o álbum todo foi produzido. Foi um trabalho enorme,demorou um mês para fazer o casting de jovens,fazer o retrato com uma maquiagem para parecer que eles estavam assustados,haviam sido torturados etc. Um mês de trabalho para algo que aparece alguns segundos no filme. Mas ficou muito fiel e impressionante. Se fizesse com inteligência,artificial ia ficar tudo muito bonito,muito certinho... não ia dar certo.”


Detalhes do álbum de fotos apresentado a Eunice no DOI-Codi — Foto: Reprodução

'Vejo as cortinas e me dá uma alegria'

“Sempre que eu vejo a foto da Eunice com as cortinas me dá uma alegria. Pensamos muito em como fazer da melhor maneira as janelas fechando na hora em que chegam os militares. Não podia ser uma janela muito difícil de fechar,não podia ter venezianas ou persianas complicadas para os caras ficarem mexendo. Tinha que ser uma ação mais rápida,para combinar com o efeito da chegada deles. Tinha que ser cortina. Então reconstruímos todas as janelas da sala para que elas tivessem essas cortinas grandes,de cima a baixo,que eles vão fechando assim que entram na casa. Me agradou muito esse tom de tijolo,que deixa a luz entrar um pouco.”

Fernanda Torres em cena de "Ainda estou aqui" — Foto: Reprodução

'Vermelho que Walter gostou'

“Não me ligo muito em carros,mas me interesso muito pelos que vão aparecer nos filmes em que trabalho. Todos os veículos que vemos nas ruas,os carros do Exército e da polícia,foram escolhidos com critério. E tivemos um esforço extra para conseguir o carro do Rubens,um modelo específico que era importado pro Brasil (era um Opel Kadett L 1968). Depois que conseguimos,surgiu um problema: as fotos do carro do Rubens eram em preto e branco. Aí uns filhos lembravam que era vermelho,outros que era laranja... Guiados por imagens de anúncios da época (exemplo acima) fomos chegando no tom aproximado. Depois de pintar o carro duas vezes,chegamos no vermelho que Walter gostou.”

Opel Kadett L 1968 — Foto: Reprodução

Móveis recheados 'para os atores'

“Gostaria de destacar o trabalho de Paloma e Tatiana,produtoras de arte,e da Laura,produtora de objetos. Com elas foi possível fazer uma coisa que é o sonho de todo diretor de arte. Em todos os cenários do filme,seja na casa da família Paiva nos anos 1970,seja no apartamento da Eunice nos anos 1990,se você olhasse em cima de uma mesa ou abrisse uma gaveta,ia encontrar um monte de coisa — fotos recriadas,documentos pessoais de cada personagem,revistas de palavra cruzadas da época. Ao lado do toca-discos tinha uma discoteca real. A cozinha tinha louça,os guarda-roupas tinham... roupas (risos). Estou falando de coisas que nem aparecem no filme. Mas,Walter concorda comigo,para os atores é importante estar no cenário e ter essa vivência. No caso de ‘Ainda estou aqui’,é mais um elemento de memória.”

Props de "Ainda estou aqui" — Foto: Reprodução

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