Novo tabuleiro do Ártico: Com apoio da Rússia, China amplia influência na região em meio a tensões geopolíticas

2025-02-17 HaiPress

Foto aérea mostra um quebra-gelo na ilha Axel Heiberg,no Ártico canadense — Foto: Michael Runkel/Robert Harding via AFP

RESUMO

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GERADO EM: 15/02/2025 - 14:20

"China e Rússia no Ártico: Tensões Geopolíticas"

Na crescente competição no Ártico,China amplia influência com apoio da Rússia,gerando tensões geopolíticas. Com reservas de energia e rotas marítimas em jogo,parceria Rússia-China se estende a patrulhas conjuntas. Equilíbrio de poder e segurança regional em risco.

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A temperatura está esquentando no Ártico — e isso não se refere apenas à sensação térmica provocada pelas mudanças climáticas. Antes uma fronteira negligenciada,a região tem se tornado um foco cada vez maior de competição comercial devido às suas reservas de energia inexploradas e ofertas de rotas marítimas globais mais curtas. Há quem diga também que pode vir a ser palco de conflitos no futuro,caso seu inusitado equilíbrio geopolítico se rompa. No centro,está a crescente parceria da Rússia com a China,um país que sequer pertence ao Polo Norte,mas que já disse ser uma nação “quase ártica”. À medida que os termômetros sobem e a camada de gelo diminui,as tensões vêm à tona.

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No passado,a Rússia protegia zelosamente suas regiões árticas da presença e influência da China. Mas isso mudou. Nos últimos anos,Pequim tem se valido da “parceria sem limites” com Moscou — isolada pelas sanções ocidentais — para expandir sua influência sobre o Ártico. Enquanto empresas chinesas se tornaram grandes investidoras e fornecedoras de equipamentos em projetos de energia russos,a Rússia passou a enviar grandes volumes de combustível para a China a preços reduzidos usando sua “frota fantasma”.

Patrulha conjunta

Mas a cooperação Rússia-China no Ártico não se limita ao comércio. Em outubro,a Guarda Costeira da China e a Guarda de Fronteira da Rússia realizaram sua primeira patrulha conjunta no Ártico. A Guarda Costeira dos EUA,que monitorou os dois navios chineses e os dois russos por via aérea,disse que foi a maior distância ao norte que os navios da Guarda Costeira chinesa já haviam sido avistados. Em julho,bombardeiros russos e chineses também voaram juntos pela primeira vez perto do Alasca,onde foram interceptados por caças dos EUA e do Canadá.

— Foto: Editoria de Arte

Antes,os Estados nórdicos lideraram um exercício de defesa conjunto com mais de 20 mil soldados de 13 países da Otan,voltado para proteger o flanco norte da aliança militar ocidental. EUA,Canadá e Finlândia também firmaram um acordo para incentivar suas indústrias a produzirem mais navios quebra-gelo,fundamentais para melhorar o policiamento e abrir caminho para navios mercantes nas regiões geladas da Terra.

Navios quebra-gelo

A Rússia opera a maior frota de navios quebra-gelo do mundo,com 41 unidades de diferentes categorias,enquanto os EUA possuem 12,sendo nove restritas à região dos Grandes Lagos e apenas duas projetadas para aguentar as condições extremas do Ártico — uma delas com 50 anos de uso e outra encostada desde 2024,após um incêndio a bordo. Canadá e Finlândia operam 20 e 11 navios quebra-gelo,respectivamente. Acredita-se que a China tenha ao menos cinco e planeje construir novas unidades,incluindo uma movida a energia nuclear,que garante mais autonomia de navegação.

— Após a invasão da Ucrânia,Suécia e Finlândia aderiram à Otan,o que,em última análise,significa que dos oito países do Ártico,agora sete são membros da aliança — diz Jennifer Spence,diretora da Iniciativa do Ártico no Centro Belfer da Faculdade Kennedy de Harvard,nos EUA. — Cerca de 50% do litoral do Ártico continuam sendo russos,mas a guerra na Ucrânia,mesmo distante,mudou a dinâmica regional,renovando suas tensões militares e geopolíticas.

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Em 2024,um plano estratégico do Departamento de Defesa dos EUA considerou a cooperação com os aliados da Otan no Ártico essencial para acompanhar a presença russa e chinesa na região. Mas,na prática,a equação não é tão simples. Dos 32 membros da aliança,apenas sete são adjacentes ao Ártico e muitos deles têm agendas conflitantes em suas contribuições para a defesa. A base industrial do Reino Unido mal consegue dar conta das obrigações com a Aukus (sua parceria militar com EUA e Austrália). Finlândia e Suécia estão concentradas na segurança da região do Mar Báltico,onde uma série de supostos ataques híbridos e atos de sabotagem a estruturas críticas têm sido registrados.

A Dinamarca também tem grandes responsabilidades de defesa no Báltico e precisa acomodar as prioridades da Groenlândia e das Ilhas Faroe para manter sua influência. A Islândia,por sua vez,depende dos EUA para sua defesa,e grande parte do orçamento do Canadá no setor está comprometido com a construção de uma nova classe de navios de guerra (15 no total),que promete ser sua maior iniciativa desse tipo desde a Segunda Guerra Mundial. Já a Noruega,apesar de ser um parceiro importante,não destinou grandes quantias para embarcações reforçadas para navegação no gelo.

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Mas a parceria entre Rússia e China,embora bem-sucedida,não é equilibrada e pode eventualmente se romper devido a divergências de interesse,avaliam especialistas. Para Moscou,o Ártico é uma zona crítica de segurança; para Pequim,uma oportunidade econômica.

— Do ponto de vista dos formuladores de políticas russos,exercícios conjuntos podem ser vistos como uma forma de estreitar os laços com a China e enviar um sinal aos Estados do Ártico Ocidental de que a Rússia “não está sozinha”. Entretanto,é improvável que a Rússia permita que uma presença militar chinesa permanente rivalize com seu próprio complexo defensivo na região — pondera Pavel Devyatkin,pesquisador do Instituto Ártico baseado em Moscou.

Desequilíbrio

Com estimados 90 bilhões de barris de petróleo não explorados — cerca de 13% do total global — e 30% do gás natural não descoberto da Terra,o Ártico é gerido pelo Conselho do Ártico,formado pelos oito países da região. Tratados internacionais também dão conta de sua utilização. Mas à medida que a camada de gelo marinho diminui significativamente,o interesse de outras nações aumenta,acendendo um alerta para as lideranças regionais.

— O Ártico ganhou notoriedade para o resto do mundo na última década,tornando-se um território economicamente e geopoliticamente globalizado,apesar do controle exercido sobre ele. Países que estão dentro e fora do Ártico têm interesse na região. Alguns interesses são legítimos,como os da Rússia,que é uma nação do Ártico,outros não — disse ao GLOBO Mike Sfraga,ex- embaixador geral dos EUA para a região do Ártico,durante a Conferência de Segurança de Munique. — O futuro da China na região é um tanto obscuro. Não temos certeza de seu objetivo além de extrair petróleo,gás e outros minerais. E isso certamente altera as dimensões de segurança do Ártico.

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