Cachorro da raça São Bernardo — Foto: Alejandro de la Mora/Unsplash

RESUMO

GERADO EM: 11/02/2025 - 20:04

"Desafios e Alegrias: A 'Máfia do Cão' em Casa"

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Escrevi um texto corajoso,assumindo o incômodo com cachorros em supermercados. Disse que jamais teria um,e nessa despertei a ira de muitos. Foi um erro. Não se mexe com a Máfia do Cão. Eu poderia expressar opiniões radicais de gênero e classe,poderia me assumir fascista e racista que o povo não estaria nem aí. Mas mexer com a Máfia do Cão é perigoso.

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Eu não sei se foi praga,se fizeram um ebó,mas o fato é que eu acordei um dia com pensamentos turvos. Disse lá em casa que poderíamos talvez considerar dar abrigo temporário a um cachorro pequeno,dentre os tantos abandonados pelos incêndios em Los Angeles. Duas horas depois eu tinha adotado um pastor australiano.

Abram os braços feito Cristo. Fechem só um pouquinho. É esse o tamanho do Elio. Sim,minha filha escolheu chamá-lo como um homem de meia-idade. O Elio é grande,peludo,pesado e faz um cocô do tamanho de um bonde.

Como eu permiti? Como fui coagida a fazer parte da Máfia do Cão? Não tenho ideia,mas já que estou por aqui revelarei os meandros da coisa. Vejam-me como infiltrada,a mulher corajosa dizendo a verdade. Máfia: cês podem abandonar uma ninhada de São Bernardos na minha porta que não me intimido. Sou contra cachorro em farmácia,mercado e praia e vou sempre dizer o que penso. Leitores: não queiram um cachorro.

Um cachorro não muda a rotina. Ele aumenta a rotina. Seis da manhã,é Elio pedindo um passeio. E daí que você madruga a fim de levar um cão para cheirar uns postes. No meu caso é ele quem me leva (não para cheirar os postes). Elio avança com o peso de um mamute comigo atrás. De volta à casa ele se entretém com uma bola babada.

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Falando nisso,o pessoal da Máfia do Cão é meio sujinho. Nosso padrão de higiene caiu consideravelmente. É um tal de mão no cachorro e depois no sanduíche,filho abraçado ao cachorro e depois na minha cama,focinho de cachorro depois de cheirar todos os mijos do bairro afundado na minha bochecha. O piso da minha cozinha brilha sob uma espessa camada de saliva e tudo quanto é brinquedo o Elio encharca de baba e me entrega no colo.

Como eu deixei isso acontecer? Eu era uma pessoa limpinha. Minha casa era um brinco. Agora está cheia de pelos,eu tiro um tufo da sala diariamente. Nem sei como,o Elio se desfaz durante o dia e se refaz durante a noite. É um cachorro de mitologia. O sofá esta protegido por lençóis,há ossos,almofada e cobertor pelo chão,marquinhas de pata na casa,água em torno da cuia. E para que,pessoas,para quê?

Não queiram um cachorro,para não ficarem meio pancados como eu falando sozinha o dia inteiro: Elio,eu estou cortando batatas; Elio,vai chover amanhã,tá na hora da minha ioga,vou passar hidratante; Elio,eu agora não posso,ou posso,vem aqui.

É bem como disse Vinicius de Moraes sobre os filhos: melhor não tê-los. Mas,se não os temos,como sabê-los?

Não tenham,não saibam,não queiram um cachorro. A Máfia do Cão é poderosa,seus meios,efetivos,e depois como eu vocês não vão conseguir não querer um cachorro.

(Terei em breve uma linda matilha de São Bernardos para adoção.)