Os paulistas Julia Parra,Hevert Parra e Thiago Siqueira na fila para ver Shakira,no estádio Nilton Santos: pochete para o celular — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RESUMO

GERADO EM: 11/02/2025 - 22:07

Furtos de celulares em eventos: autoridades investigam quadrilhas no Rio

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Capital de grandes eventos no país,o Rio recebe ainda mais opções de entretenimento no verão e no período de carnaval. Mas,mesmo em espaços fechados,a diversão tem sido ofuscada por quadrilhas especializadas em furto de celulares. No último fim de semana,por exemplo,as redes sociais exibiram inúmeros relatos de vítimas que perderam seus aparelhos no evento Ensaios da Anitta,na Marina da Glória,na Zona Sul. A Polícia Civil do Rio reconhece a existência desses grupos,e policiais militares chegaram a fazer um vídeo com orientações para o público.

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Saulo Bulhões,de 34 anos,foi uma das pessoas que tiveram o celular furtado na festa na Marina. Ele conta que o aparelho tinha uma cordinha que estava presa a sua bolsa de ombro:

— Eu fui encontrar esse amigo e,de repente,nos assustamos com uma briga. Tinha um garoto caído no chão e um homem,que parecia segurança à paisana,tirando celulares dos bolsos dele. Deveria ter uns 20 aparelhos. Nisso,quando voltamos a conversar,vi que a minha bolsa estava aberta. Só restou a capinha vazia.

Mensagem de criminosos forjando link de localização — Foto: Reprodução

Criminosos entraram em contato com vítima após furtarem celular — Foto: Reprodução

Durante o show de Anitta,Tatiane Queren Ferreira e Alessandro dos Santos Chaves foram presos com 20 celulares furtados,segundo a polícia. Os aparelhos foram levados para a 9ª DP (Catete),destino de,no total,pelo menos 40 telefones furtados no evento. Todos estão sendo devolvidos aos donos.

Aparelho foi para São Paulo

No caso de Saulo,o modo “roubo”,disponível nos aparelhos com o sistema iOS,revelou que o celular dele estava na Praça da Sé,em São Paulo. Na noite de segunda,quando já tinha habilitado o número de sua linha em outro aparelho,ele recebeu um SMS dos criminosos,semelhante a uma mensagem automática,na qual havia um link de localização do celular. Para ele,era uma tentativa de golpe:

— Se eu clicasse no link,eles provavelmente iam ter acesso à minha senha da Apple. Eu respondi dizendo que sabia onde o celular estava,e eles me chamaram de otário,adotaram um tom quase ameaçador.

Nas redes sociais,outros eventos no Rio foram cenários de furtos,como o Universo Spanta,também na Marina da Glória,em janeiro,que tem até queixas de consumidores na plataforma Reclame Aqui. “Ao me deslocar,senti um apertão e o rapaz falou ‘perdeu’. Quando tentei reagir,ele já havia levado meu celular”,contou uma das vítimas em 20 de janeiro. Nesse mesmo dia,outro relato semelhante: “Um grupo passou agressivamente por nós,alguns segundos depois me dei conta de que o celular não estava mais na case”.

O delegado Rafael Barcia,titular da 9ª DP,destaca ser comum até grupos de fora do Brasil furtarem em eventos na cidade:

— A gente sabe que existem quadrilhas especializadas nisso,e algumas vêm até fora. No Rock in Rio de 2022,a Polícia Civil prendeu um grupo de colombianos. Infelizmente,é muito comum. Os furtadores chegam a simular brigas para reter a atenção das pessoas,enquanto outros comparsas passam pegando os pertences.

A Polícia Civil investiga a atuação de diferentes quadrilhas: há suspeitos de São Paulo,Goiânia,da Colômbia e do Peru.

Para Saulo,esses grandes eventos deveriam fazer revista também na saída,com uso de detectores de metais:

— É comum algumas boates no Rio fazerem revista na saída,até pedindo para as pessoas desbloquearem os celulares. É uma forma de ver se o objeto pertence mesmo à pessoa,né? Nesse show na Marina só teve revista na entrada.

Outra vítima,Júlio Ribeiro,que foi à Marina com amigos,viu que tinha sido furtado quando foi ao banheiro:

— Tentei deixar ao máximo a bolsa próximo ao peito,mas,no momento em que fui ao banheiro,ela ficou de lado,na costela. Imagino que foi neste momento que tudo aconteceu. É tão rápido que a gente nem percebe,não nota nada.

O aparelho era o único meio de comunicação e de pagamento de Júlio,que havia baixado o aplicativo do evento para compra de comida e bebida. Após o crime,ele abandonou o show e foi para a 9ª DP (Catete). De lá,andou mais de três quilômetros até a Igreja da Candelária à procura de um ônibus para Jacarepaguá,onde mora.

— Eu estou muito chateado. Comprei o ingresso há meses,estava doido para ir ao show. Eu trabalho de madrugada,então,tinha organizado a minha escala. Foi um planejamento mesmo. Acabou toda a energia,o momento,a alegria pelo show. No domingo,quando voltei à delegacia em busca do meu celular,encontrei várias pessoas na mesma situação que eu. Parecia uma comunidade.

Em nota,a equipe que organiza o Ensaios da Anitta afirmou que a equipe de segurança conseguiu identificar os responsáveis por alguns furtos. Além disso,informou que havia 240 seguranças por dia,sendo 20 descaracterizados,assim como 60 câmeras de monitoramento,que estão à disposição das autoridades.

Os casos de furto viraram até tema de um vídeo de policiais do 5º BPM (Praça da Harmonia),que passam orientações de segurança. Fãs de Shakira,que estiveram ontem no estádio Nilton Santos,no Engenho de Dentro,na Zona Norte do Rio,para o show da cantora,contaram que adotam medidas de segurança para nada atrapalhar a diversão. Os paulistas Julia Parra,de 28 anos,Hevert Parra,de 30,e Thiago Siqueira,disseram que se prepararam com antecedência para visitar a cidade,inclusive avaliando quais são as ruas mais perigosas no entorno do estádio.

— Nós não conhecemos muito aqui e sabemos que,infelizmente,a violência é uma realidade. Logo quando compramos os ingressos,já saímos pesquisando a localização dos transportes públicos e quais são as ruas que devemos evitar passar. Aqui para o show,nós trouxemos pochete. Acho que é um item indispensável porque deixa tudo mais protegido — contou Julia.

Hevert,irmão da jovem,ensina outra estratégia para evitar furtos:

— É claro que sempre tem gente má intencionada e não podemos ficar distraídos,mas acho que usar a pochete ou a doleira por dentro da roupa,principalmente da bermuda,torna o trabalho dessa galera mil vezes mais complicado.

‘Pochete invertida’

Enquanto isso,a mineira Nayara Marques,de 30 anos,além de usar a pochete,optou por colocar cartões e documentos dentro da roupa. Afirmou que quanto mais perto os seus pertences estiverem do corpo,mais segura ela se sente para estar num ambiente com muitas pessoas.

— Eu vim bem tranquila,mas sempre tomando algumas precauções. Estou muito feliz de estar aqui e não quero que nada estrague o meu dia. Coloco os itens importantes dentro da roupa mesmo,porque se alguém encostar vou sentir na hora — explica.

A organização do Universo Spanta informou,por nota,que “revisita seus processos e busca se aperfeiçoar para trazer cada vez mais conforto e segurança para seu público” e que este ano “disponibilizou um contingente de seguranças,uniformizados e à paisana,para evitar acontecimentos inoportunos”.