'Filha' de Fernanda Torres em 'Ainda estou aqui', Valentina Herszage fala sobre desafios na carreira: 'Fui ridicularizada, ignorada'

2025-01-26 HaiPress

A atriz Valentina Herszage — Foto: Maria Júlia Magalhães

RESUMO

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GERADO EM: 24/01/2025 - 11:04

Valentina Herszage: Emoções e Desafios em "Ainda Estou Aqui"

Valentina Herszage,atriz de 26 anos,revela emoções e desafios nos bastidores do filme "Ainda estou aqui",indicado ao Oscar. Conhecida por papéis profundos,reflete sobre feminismo e violência,além de sua vida pessoal e futuros projetos,como contracenar com Susana Vieira.

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Valentina Herszage,de 26 anos,tem bem guardado na memória o início de sua relação com o cinema. Ela era ainda criança quando o pai criou um ritual familiar em que ele e a filha assistiam a filmes todo fim de semana,compartilhando a paixão pela sétima arte. Um dos mais vistos e revistos foi “Hair”,dirigido por Milos Forman,de 1979,e baseado no musical de mesmo nome,de 1968,considerado um retrato da contracultura. “Em determinadas cenas,levantávamos do sofá e reproduzíamos a coreografia”,recorda-se. Em uma espécie de conexão mágica,e cinematográfica,a atriz estava na casa do pai quando recebeu o primeiro telefonema do diretor Walter Salles,convidando-a para passar o dia seguinte na Urca,onde o longa “Ainda estou aqui” seria filmado,para um teste de câmera. “Eu e meu pai piramos. Pulamos,gritamos,foi uma festa.” O convite para interpretar Vera,a filha primogênita de Eunice (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello),veio depois de vários takes,naquele mesmo dia,em pleno pôr do sol. “Walter me falou: ‘Valentina,gostaria muito que você fizesse a Veroca’. Saí de lá em êxtase e me atraquei com o maior pedaço de bolo de chocolate que encontrei pelo caminho.” Agora há ainda mais motivos para comemorar: “Ainda estou aqui” foi indicado ao Oscar de Melhor Filme,Melhor Filme Internacional e Fernanda Torres ao de Melhor Atriz. “Tenho muito orgulho de ter feito parte”,vibra Valentina.

A atriz Valentina Herszage — Foto: Maria Júlia Magalhães

Filha de uma psicanalista e um agente de viagens,a atriz soube muito rápido o que queria da vida. O interesse pela arte foi incentivado pelos pais que a matricularam em cursos de teatro,circo e sapateado desde cedo. Criança,participou de um curta-metragem e de peças teatrais. Aos 15 anos,ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio,por sua atuação no longa “Mate-me por favor”,de Anita Rocha da Silveira. “Foi uma emoção.”

Onze anos depois,Valentina desfruta da consagração de “Ainda estou aqui”. O sucesso de público e de crítica e o engajamento que a obra alcançou nas redes estão fazendo com que o trabalho da low profile atriz se torne ainda mais conhecido. “O filme já atingiu um público de 4 milhões. Então,a partir dele,as pessoas passaram a conhecer melhor a minha trajetória. Já realizei longas com temas como privatização,religião e,coincidentemente,três a respeito da ditadura militar. Além de ‘Ainda estou aqui’,‘A batalha da Rua Maria Antônia’,de Vera Egito,e ‘O mensageiro’,de Lúcia Murat. É muito importante abordar esse assunto e contar essa parte da História,principalmente para a minha geração,bastante descolada daqueles acontecimentos”,analisa.

A transformação profunda exercida por “Ainda estou aqui” sobre Valentina começou ainda nos bastidores do filme. “Foi um set muito amoroso. A começar pelo Walter,que é um pessoa muito doce. Dá importância de protagonista para cada ator,e isso faz toda diferença”,conta. “Estar do lado de atores que admirei por toda a vida também foi inesquecível. Sou apaixonada pela Fernanda Torres. Durante as filmagens,fazíamos crochê juntas; às vezes,falando muito; em outras,sem dizer uma palavra”,derrama-se. Fernanda não poupa elogios. “A Valentina é nossa Greta Garbo,é assim que eu a chamava no set,entre uma cena,uma gargalhada,um crochet e outro. Descobri Valentina com a divina Hebe,aquele rosto,aquelas maçãs invejáveis da face,e a inteligência faceira impressa por ela na aurora morena da futura loura. Depois,a vi no teatro,com o Lazarus do Felipe Hirsch,que me fez perceber que a moça sabia o que era palco,cantava e tudo,além de estar na estrada há mais tempo do que eu suspeitava. Sua escolha para viver a enfermeira de Fim - que comete eutanásia no herói,na cena de abertura da série -,foi uma decisão unânime,minha e dos diretores Andrucha Waddington e Daniela Thomas,já estávamos todos de queixo caído. Numa cama de hospital,sentada sobre a barriga do Fábio Assunção,ela fazia piada e ria,antes de ouvir o ação,para,na sequência,mergulhar na cena de amor e morte do roteiro,com a gravidade erótica que poucas atrizes jovens seriam capazes de compreender. Em Ainda Estou Aqui,eu já me sentia mãe dela. Mais que mãe,companheira de vida mesmo. Tenho saudade da Valentina,das nossas provocações,nós nos tratamos como velhas comadres. A Valentina me lembra muito a minha geração de amigas e parceiras: Débora Bloch,Andréa Beltrão,Júlia Lemmertz… a mesma disponibilidade para o palco e para as telas,o mesmo humor carioca de quem não se leva a sério,embora se leve,e muito. E nenhum estrelismo,nenhum,zero estrelismo,rosca. A Valentina é uma luz terrena,uma atriz concreta,um carisma ambulante,um talento sem deslumbre,guiado pelo puro prazer do fazer. E como se não bastasse,ainda tem aquele rostinho… Como diz Miguel Falabella: “Jamais a perdoaremos por isso!"",declara. Outra referência de Valentina é Selton Mello. “Ele juntou os caquinhos da memória para construir o Rubens e realizou um trabalho fenomenal”,observa. Selton compartilha da mesma alegria. “Valentina começa valente já no nome. Não é por acaso que o cinema se encantou com sua presença marcante.”

A atriz Valentina Herszage — Foto: Maria Júlia Magalhães

Entrar na pele da filha mais velha de Eunice e Rubens Paiva,que vivia seus 17 anos em pleno 1970,também foi uma experiência intensa,que a exigiu movimentos inéditos. “Sempre fui mais certinha. Então,interpretar a Veroca,que era um bocado hippie,ligada em som,liberdade e sensações,foi desafiador. O Walter pediu para eu e a Luiza (Kozovski,que interpreta Eliana,uma de suas irmãs) decorarmos o quarto delas. Colocamos cartazes de filmes icônicos,como “Blow-up”,e de artistas,como a atriz dinamarquesa Anna Karina e Gal Costa. Procurei a expressão corporal de Vera na Gal,na sua maneira de se sentar,encostar,dançar. Foi a principal referência.” O diretor Walter Salles destaca a inteligência emocional da atriz. “Valentina foi uma das primeiras atrizes escolhidas para AEA. Tinha visto “Mate-me Por Favor”,de Anita Rocha da Silveira,e ficado impactado pelo filme e pela densidade e magnetismo de uma atriz tão jovem. Nossa ótima diretora de casting Letícia Naveira e nossa maravilhosa preparadora de elenco,Amanda Gabriel,também eram fãs da Valentina. Seu foco,sua inteligência emocional,sua inquietude foram fundamantais para que um personagem tão importante quanto Veroca ganhasse vida na tela. É ela que,ao voltar de Londres,percebe que nada mais será como antes na família. Nesse momento,os não ditos,os olhares,tudo aquilo que é subjetivo se torna vital. O talento de Valentina ajudou a enraizar esse ponto de inflexão do filme",diz Walter Salles. "Valentina tmb é fotógrafa amadora,tem uma câmera analógica e o olhar afiado. Muitas das imagens em Super 8 do filme foram feitas por ela",emenda.

Vítima de violência policial na ficção,quando Vera e amigos são parados numa blitz atrás de drogas,Valentina constata que não avançamos muito nessa seara. “Essa sensação de estar acuada,hoje,acontece entre as pessoas de classes sociais menos privilegiadas. Defendo a liberação da maconha. Já fumei,mas não é algo que use. Nunca experimentei drogas sintéticas,tenho medo. Sou atriz e já vivo um mundo bastante doido na minha cabeça (risos). Mas não sinto que possa dizer o que outro pode ou não usar,é um tema muito complexo”,avalia.

A atriz Valentina Herszage — Foto: Maria Júlia Magaçhães

Mergulhar em temas profundos é quase especialidade da casa. Em “As polacas”,filme de João Jardim lançado em novembro passado sobre o tráfico sexual no começo do século XX,Valentina vive a protagonista Rebeca. Desta vez,precisou lidar com outra violência que segue presente. “No geral,as mulheres ainda continuam reprimidas. Temos inúmeros casos de feminicídio e tráfico. Muita gente se identificou fortemente com esse filme,com histórias próprias,mulheres que passaram por isso. A partir da minha profissão o que posso fazer é trazer à luz todas essas questões,praticamente como uma denúncia”,diz. Sobre abuso,Valentina passou quase incólume. “Na profissão,já peguei esse bonde andando,onde determinadas atitudes não são mais toleradas. Mas,inúmeras vezes,fui interrompida,ridicularizada,ignorada. Engraçado como demoro para elaborar. Faço análise há dez anos e é nesse lugar que consigo identificar a origem de certos desconfortos”,pondera.

Namorando há dois anos e meio o empresário Gabriel Capobianco,Valentina adora a vida a dois,mas tem hábitos e prazeres sedimentados no exercício de morar sozinha,sua realidade desde os 19 anos. “Nosso namoro é monogâmico,antes de começarmos a namorar tivemos essa conversa e a escolha fez sentido para nós dois. A gente vive muito bem. Ainda não pensamos em morar juntos e nem me imagino casando de véu e grinalda”,afirma. Um dos sonhos que vislumbra quando forem compartilhar o mesmo teto é adotar um cachorro. No futuro,deseja muito ser mãe. “Quero demais,tenho uma relação maravilhosa com a minha,e isso é um incentivador.” A vida pessoal é colocada a conta-gotas no Instagram,onde tem 311 mil seguidores. “Travo um pouco nesse trem. Primeiramente,por ser uma manipulação de imagens. As fotos podem transmitir uma coisa e a realidade ser bem diferente. Mas sei que tenho que aparecer mais. Já perdi um papel para outra atriz por causa do número de seguidores. Agora,estou postando sobre os bastidores do filme. Por exemplo,o meu crochê com a Fernanda atraiu várias pessoas que também fazem trabalhos manuais”,conta.

Enquanto se expande conscientemente nas redes,segue trabalhando. A próxima estreia,prevista para abril,é “Coisa de novela”,em que contracena com Susana Vieira. O telefilme,que faz parte da programação especial de 60 anos da TV Globo,conta a história da avó Tereza (Susana) e da neta Laura (Valentina),

A atriz Valentina Herszage — Foto: Maria Júlia Magalhães

duas apaixonadas por dramaturgia. A neta viabiliza o sonho da avó depois que esta recebe um o diagnóstico de saúde delicado: participar de uma novela global. “Estou apaixonada por Susana. Sua vitalidade é impressionante”,elogia. Susana retribui. “Conhecer Valentina foi uma das melhores coisas que me aconteceram em 2024. É uma beleza de atriz e cúmplice na vida. Corremos e nos abraçamos sem parar pelos corredores da Globo como personagens,mas,no íntimo,éramos duas amigas fazendo o que mais gostam de fazer: atuar”,exalta Susana.

Beleza: Piu Gontijo.Assistente de fotografia:Alessandra Benigno dos Reis. Assistente de moda: Faby Pernambuco. Produção executiva: Kariny Grativol e e Juliana Schiffler. Agradecimentos: Grumari Beach Garden,Thiago Barra Porto,Simone de Araújo Barra,Nosso Cantinho Grumari,Edson Dias e Bruna Pereira. Tratamento de imagem: Murillo Mendes.

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