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Jacqueline Sato debate desconstrução de estereótipos no audiovisual brasileiro: 'Somos capazes de dar vida aos mais variados papéis'
2024-11-26 HaiPress
Jacqueline Sato — Foto: Divulgação Pupin+Deleu
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 25/11/2024 - 12:50
Jacqueline Sato: Atriz e Ativista Pela Representatividade
Jacqueline Sato,atriz de "A Volta por Cima",destaca a importância de desconstruir estereótipos no audiovisual brasileiro,celebrando a diversidade e complexidade das identidades asiáticas. Além de atuar,ela promove a representatividade,sendo idealizadora do programa "Mulheres Asiáticas". Jacqueline também é ativista ambiental e produtora associada de sucesso,inspirando outros a acreditarem em seus sonhos apesar dos desafios.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Jacqueline Sato é uma das grandes apostas de "Volta Por Cima",novela da Globo que celebra a diversidade brasileira e se insere em um momento de crescente valorização da cultura asiática no país. Com a popularização de doramas,k-pop e animes,surge tanto um movimento de reconhecimento quanto uma onda de estereótipos que reduzem as identidades asiáticas a uma única imagem. Mas a trama vai além,rompendo com essas simplificações e oferecendo personagens mais complexos e multifacetados.
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Com autoria de Claudia Souto,a trama faz o novo e apresenta,também,personagens de ascendência asiática que não são definidos pela etnia,mas por suas escolhas e histórias. É o caso de Yuki,papel da atriz,que,ao contrário de outras representações em que a origem étnica é central na trama do personagem,é retratada como uma mulher moderna,cuja história,falas e trejeitos não giram preponderantemente em torno da sua ancestralidade,e sim em torno de sua visão de negócios,sensibilidade enquanto amiga,e seus traumas de relacionamentos amorosos abusivos do passado.
— Na minha carreira,busquei ao máximo por personagens que transcendessem isso. Que a minha aparência,principalmente as características ligadas à racialidade não fossem o principal motivo de eu ser escolhida para um papel. Sempre quis que meu trabalho pudesse revelar que nós,pessoas amarelas,somos muito mais do que o que a grande maioria pensa e capazes de dar vida aos mais variados papéis. Interpretar personagens complexas,cujos dramas,sonhos e desafios transcendem a questão racial sempre foi um dos meus objetivos. É extremamente importante,pois colabora para desconstrução de preconceitos e estereótipos que por tanto tempo foram replicados na indústria audiovisual e traz referências novas,mais reais,com as quais as pessoas conseguem se identificar de verdade — diz ao GLOBO.
A reflexão sobre identidade é uma constante na carreira da artista. Ela mesma revela que,em sua jornada pessoal,teve momentos em que se distanciou de elementos da cultura nipônica,como animes e mangás,justamente para não ser reduzida a um estereótipo.
— Esse tipo de pensamento,de achar que só porque a pessoa é descendente de asiáticos,é fã e entende de tudo o que vem de lá é um preconceito. Infelizmente,ter nossas individualidades não vistas é algo recorrente. Acredito que o querer me afirmar para além desse estereótipo que as pessoas projetavam sobre mim foi um dos motivos de negar algumas coisas ligadas a esse lado da minha ancestralidade no passado. Esse processo de 'sair' é algo não linear e bastante complexo para pessoas pertencentes a uma 'minoria' étnico-racial — destaca.
Em um dos capítulos da novela,o personagem Jin,vivido por Allan Jeon,também se vê diante dessa questão quando afirma que nem todo sul-coreano faz parte do universo dos doramas ou é fã de K-pop.
— A psicóloga Karina Kikuti escreve muito sobre isso em suas redes e sugiro a quem se interesse pelo assunto a dar uma olhada. Eu me identifiquei muito com o que ela descreve nesse post aqui [link]. Para mim,foi e é um longo processo de acolher e integrar todas as partes de quem eu sou,e entender que o que estava errado era esse olhar da sociedade. Até hoje não sou a maior entendedora de mangás e animes,mas não tenho esse impulso de me afastar como tinha antes. De um tempo para cá passei a me interessar mais,e a reconstruir e dar voz a essa identidade nipo-brasileira que sou com orgulho — explica.
Além de sua atuação,Jacqueline se destaca como uma das principais defensoras da representatividade no audiovisual. Como idealizadora e apresentadora de "Mulheres Asiáticas",ela criou uma plataforma para dar voz às mulheres nipo-brasileiras,frequentemente marginalizadas nas narrativas até então. Entre as convidadas do docu-talk-reality-show,estiveram as também atrizes Danni Suzuki e Ana Hikari,que compartilham da missão de empoderar e representar a diversidade no país.
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— O programa partiu de uma necessidade,mesmo. De tentar criar o que tanto esperei ver acontecer nas telas: ver mais de uma de nós ocupando esses espaços,podendo compartilhar nossas histórias,e revelar o quão diversas somos. Muita gente cresceu sentindo falta de se ver representada,e poder contribuir para a transformação disso é maravilhoso não só para a nossa geração,mas para os que vieram antes de nós e pavimentaram o caminho para que,hoje,eu e outras pessoas pudéssemos refletir,discutir e agir em relação a esses assuntos,e para as gerações futuras que não viverão essa falta da forma como quem veio antes viveu. Espero mesmo que o que a gente está fazendo hoje permita que as mais novas se sintam verdadeiramente representadas,que elas possam sonhar e acreditar que podem ser aquilo que quiserem ser,com muito menos barreiras do que antes. Que o que parece impossível,esteja muito mais próximo do possível,justamente por se ter referências.
Exemplo da pluralidade que deseja ver no mercado,ela não se limita a um único papel: é também ativista ambiental,embaixadora do Greenpeace Brasil desde 2021,defensora dos direitos dos animais,CEO da "House of Cats",instituição dedicada ao resgate e encaminhamento de gatos para adoção responsável de gatos,apresentadora,dubladora e membro da Academia do Emmy Internacional. Além disso,foi produtora associada do curta-metragem "Amarela",que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes.
— Ah,até me emocionei aqui pensando na minha trajetória,sabe? Eu quase não a comecei,por duvidar de mim,duvidar que seria possível,pelos motivos que falei durante a entrevista. É muito bom olhar para trás e ver o tanto que caminhei,construí muita coisa,desconstruí outras,persisti e persisti,para que,eu possa afirmar que sim,eu consegui e sigo conseguindo realizar muito daquilo que um dia foi só um sonho distante. Poder ser eu mesma,dedicar minha existência para agir naquilo que é importante pra mim e que gostaria de ver transformado para melhor no mundo,e ser reconhecida pelo meu trabalho e por minha autenticidade é uma das melhores coisas que eu poderia desejar; e a sua pergunta me faz ver que isso é exatamente o que está acontecendo nesse meu momento de vida. Ter aceitado desafios que pareciam impossíveis,ter acreditado em mim quando o externo repetidamente parecia dizer não,ter medo e ir com medo mesmo,continuar caminhando mesmo quando não sabia nem pra onde e nem como caminhar,foi o que me trouxe até aqui. Então,fico imensamente lisonjeada e,às vezes,quase surpresa com o fato de que eu possa ser inspiração para outras pessoas. Tive tão poucas pessoas nas quais me inspirei e sei o quanto isso faz falta. Mexe muito comigo quando descubro que,de alguma forma,fui inspiração e dei injeção de coragem a uma pessoa que seja. Sinto um misto de felicidade,gratidão,e sensação de que seja lá o que a vida me reserva adiante,já valeu a pena demais o que fiz até agora — declara.