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Caso Marielle: 'Temos promotores, juízes e desembargadores', disse Lessa sobre corrupção que emperrava investigações
2024-08-28 HaiPress
O réu colaborador Ronnie Lessa depõe na audiência do STF — Foto: Reprodução
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 28/08/2024 - 04:31
Colaborador do caso Marielle denuncia corrupção e influência política na DH
Ronnie Lessa,réu colaborador do caso Marielle,aponta corrupção em delegacias e influência política de irmãos Brazão. Delator revela esquema de sumiço de processos e possível manipulação de inquéritos. Depoimento no STF destaca conexões perigosas e suspeitas sobre a DH. Próximos depoimentos aguardados.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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O réu colaborador e ex-sargento da PM Ronnie Lessa,depôs durante mais de quatro horas no Supremo Tribunal Federal (STF),nesta quarta-feira. Num dos trechos,o assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes,se referiu à corrupção que,segundo ele,emperrava as investigações. O delator contou que Domingos e Chiquinho Brazão o contrataram por intermédio de Edmilson da Silva Oliveira,o Macalé,que foi morto.
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Lessa disse ter se encontrado três vezes com os irmãos e Macalé. Na última vez,três semanas após o duplo homicídio,em 14 de março de 2018,Domingos teria lhe dito que Rivaldo Barbosa estava direcionando o “canhão para outro canto” e que,se não desse certo,haveria outra saída:
— “Não tem problema,se for o caso,nós vamos por cima. Temos promotores,juízes e desembargadores,todo mundo é nosso amigo”. Foi isso que o Domingos falou para a gente — disse Lessa.
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Suspeita contra a DH
O delator falou ainda que suspeita de que a Delegacia de Homicídios,que investigou o caso Marielle,esteja por trás de um suposto assalto,em que ele foi baleado um mês e meio após o crime:
— Eu não posso garantir,mas eu também não duvido que tenha sido a DH. Não duvido nada. E,se por acaso,esse suposto latrocínio fosse uma tentativa de homicídio?
Ao detalhar um suposto esquema de corrupção em delegacias,Lessa disse que quando os inquéritos eram exclusivamente em papel,bastava pagar R$ 50 mil aos policiais civis para que “sumissem” com eles. Atualmente,com os documentos digitalizados e inseridos no sistema da corporação,a propina é para que provas desapareçam ou para que sejam criados obstáculos à elucidação do crime,situação que ocorre com mais frequência quando a autoria envolve contraventores e milicianos.
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Ronnie Lessa depõe como réu colaborador sobre os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson — Foto: Reprodução
— Posso adiantar que,se houvesse uma intervenção séria e surgisse alguém para denunciar,provando que pagou dinheiro a tantos delegados,teria que abrir concurso. Só meia dúzia se salvaria. Essa é a realidade da Polícia Civil. E não é diferente na PM,é a mesma coisa. As polícias no Rio estão contaminadas há décadas — afirmou Lessa,ao ser questionado pelo promotor Olavo Evangelista Pezzotti,que representou a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ele afirmou que muitos inquéritos eram destruídos com fogo,na época em que ainda eram em papel.
— Você ia lá e falava com o policial que tinha um negócio para resolver ou um inquérito para descartar. Agora,com a digitalização,ficou mais difícil. Mas antes era pegar o inquérito,colocar debaixo do braço,jogar gasolina e atear fogo. Era assim que funcionava. Sumiam estantes inteiras de processos. Isso quando eram físicos. Depois que digitalizaram,ficou um pouco mais difícil. E o que eles fazem hoje? Tentam manipular o processo. O inquérito é manipulado,desviado para outro foco,por aí. Mas antigamente,não. Pegava-se o processo grosso,de um palmo de espessura,colocava debaixo do braço,apertava a mão,deixava R$ 50 mil e ia embora — disse o ex-PM,que foi cedido para a Polícia Civil por mais de dez anos.
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Lessa relatou ainda que,quando um policial se recusava a ajudar os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão,eles usavam sua influência política para transferir o profissional de seu posto:
— A corrupção está em todas as esferas. Então,se o delegado não quer fazer o que eles querem,eles simplesmente tiram ele. É assim que funciona. E,na verdade,deixa eu só concluir aqui,tanto o Chiquinho quanto o Domingos têm essa influência. Eles mesmos colocam e retiram delegados de onde quiserem. É uma questão de influência política,e é disso que eles precisam. Estamos lidando com a cúpula,tá?
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Inquéritos incendiados
Esse foi o primeiro depoimento de Lessa na audiência de instrução e julgamento da ação penal contra os mandantes da morte de Marielle e Anderson. As respostas do assassino confesso eram as mais aguardadas após 12 dias de depoimentos. O processo no STF é contra cinco réus: os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) e deputado federal,respectivamente —; o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa; Robson Calixto Fonseca,conhecido como Peixe; e o major Ronald Paulo Alves Pereira. Os três primeiros são apontados como mandantes do homicídio. Calixto é suspeito de ter fornecido a arma usada no crime,enquanto Ronald é acusado de monitorar a vítima.
Antes de entrar na sala virtual,o advogado de Lessa,Saulo Augusto Carvalho Santos,requereu ao desembargador Aírton Vieira,que preside a audiência pelo STF,que seu cliente prestasse depoimento sem a presença dos réus que delatou,como é previsto em lei,alegando constrangimento. Como a sessão é por videoconferência,o magistrado decidiu que os acusados deixassem a plataforma. Ao entrar,Lessa justificou seu pedido:
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— São pessoas de alta periculosidade,assim como eu fui. No decorrer do depoimento,vocês vão perceber que essas pessoas são mais perigosas do que se pode imaginar — disse Lessa,referindo-se aos irmãos Brazão.
O depoimento de Lessa continua nesta quinta-feira. Depois,deve ser ouvido Élcio de Queiroz,que confessou ter dirigido o carro usado no crime. Nove testemunhas já haviam sido ouvidas sobre os homicídios.
O advogado Marcelo Ferreira,que defende Rivaldo Barbosa,disse que Lessa foi genérico e não apresentou qualquer “dado concreto que pudesse corroborar sua narrativa”. A defesa de Ronald não quis se pronunciar. Domingos e Chiquinho negam participação no crime e conhecer Lessa.
Já a Polícia Civil,em nota,disse que as denúncias de Lessa não merecem crédito e que não existem provas que corroborem as afirmações.