Análise: Resposta debochada a críticas contra Putin mostra que Rússia vê Trump como um 'tigre de papel'

2025-05-27 IDOPRESS

Presidente da Rússia,Vladimir Putin,em reunião com empresários russos no Kremlin — Foto: Grigory SYSOYEV / POOL / AFP

“Sempre tive um ótimo relacionamento com Vladimir Putin,da Rússia,mas algo aconteceu com ele. Ele ficou completamente LOUCO!”,escreveu,no domingo,o presidente dos EUA,Donald Trump,em sua rede social. Horas antes,a Rússia havia lançado um dos maiores ataques com drones contra a Ucrânia desde o início da guerra: foram 367 drones e mísseis,que deixaram 13 mortos. Na mensagem,ele ainda afirma que Putin quer conquistar “toda a Ucrânia”,e que se isso acontecer,levaria “à queda da Rússia”.

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Alguns líderes,como o presidente francês,Emmanuel Macron,viram na postagem no Truth Social traços de uma epifania trumpista sobre o conflito que se arrasta desde fevereiro de 2022: a jornalistas,disse esperar que a “indignação” leve a Casa Branca a adotar medidas como “um pacote de sanções completamente diferente e muito mais massivo.

Para os russos,soou como mais do mesmo,e como uma oportunidade para debochar,ao estilo da diplomacia local,do líder da maior potência militar do planeta.

— O início do processo de negociação,para o qual o lado americano tem se esforçado muito,é uma conquista muito importante — disse aos jornalistas o porta-voz do Kremlin,Dmitry Peskov. — É claro que,ao mesmo tempo,este é um momento muito importante,que está associado a uma sobrecarga emocional para absolutamente todos e a reações emocionais.

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Desde seu retorno à Casa Branca,essa foi a sexta vez em que Trump reclama da demora para a resolução de uma guerra que,mesmo antes de ser eleito,ele prometia acabar em até 24 horas. Em março,por exemplo,ele disse estar “muito bravo” e “puto” com a recusa de Putin em aceitar um cessar-fogo incondicional de 30 dias.

— Os dois estão vivendo um uma dinâmica de relativo estresse. Trump espera que Putin dê um passo adiante,e o Putin não dá. E isso de vez em quando acaba levando a esses momentos,como o comentário de Trump no Truth Social — disse ao GLOBO Paulo Velasco,professor de Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). — O próprio Trump já deu a entender que a paz passa obrigatoriamente pela renúncia por parte da Ucrânia dos territórios ocupados pela Rússia. Então,isso vai ao encontro do que do que o Putin pensa.

No mês passado,disse que “não estava nada feliz” com os novos ataques russos contra Kiev,e fez um pedido: ”Vladimir,PARE”. No domingo,pouco antes de publicar suas queixas no Truth Social,confidenciou a repórteres que “não sabia o que diabo aconteceu com Putin”.

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A resposta à indagação é simples: nada aconteceu com Putin. Ele mantém,com algumas adequações,os mesmos objetivos do dia em que lançou a maior operação militar em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial,como barrar a entrada da Ucrânia na Otan e torná-la um país neutro,manter as áreas conquistadas e obter um novo governo (mais afável) em Kiev.

— Putin ganha tempo e se aproveita de uma certa boa vontade de Trump,sabendo que Trump o respeita e o admira. Então,quando o Trump,chama Putin de “louco”,Putin dá risada porque sabe que isso não influencia na relação entre ambos — diz Velasco,se referindo às numerosas declarações elogiosas ao líder russo feitas por Trump.

Trump tampouco parece ter mudado. As críticas a Putin mais uma vez acompanharam ameaças vagas de sanções,como querem seus aliados europeus,sem qualquer indício de que se tornarão reais. A impaciência,demonstrada na publicação no Truth Social,também é dirigida ao líder ucraniano,Volodymyr Zelensky,com quem nutre uma relação marcada mais pelos baixos do que pelos altos. E o pouco apreço ao papel dos EUA na segurança coletiva europeia é um lembrete sombrio ao continente de que o apoio de Washington não é mais 100% garantido.

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Se há algo diferente agora é a constatação pública de que os russos entendem que o risco de uma retaliação da Casa Branca à ofensiva na Ucrânia é próximo a zero. Ao sugerir que o líder americano sofre de uma “sobrecarga emocional”,o Kremlin diz ao mundo que o vê não como uma ameaça a seus planos na Ucrânia,mas sim como um "tigre de papel" — ameaçador,porém inofensivo —,de quem tentará extrair a maior quantidade possível de vantagens,não apenas no campo de batalha.

— Putin tem uma posição confortável nessa negociação,mesmo a guerra sendo custosa para Rússia,com todas as sanções — opina Velasco. — Putin não está desesperado,e acha que tendo em vista a necessidade que o Trump tem de contar com sua boa vontade para encerrar o conflito,ele acha que pode barganhar alguma vantagem a mais.

Um risco que surgiu nos últimos dias foi um projeto no Senado dos EUA,apoiado pelos dois partidos,que prevê sanções a Moscou,mas ainda não se sabe a posição de Trump.

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Mas há um fator que precisa ser levado em conta: a imprevisibilidade do governo Trump 2.0. No Oriente Médio,o líder americano tomou decisões,como negociar com o Hamas e os houthis do Iêmen,sem consultar Israel. O tarifaço global abalou os pilares econômicos mundiais,mas também viu idas e vindas de Washington. Se Trump perceber que Putin não tem mais nada a lhe oferecer,ou se vir vantagens em sanções mais agressivas contra Moscou,uma reviravolta estaria apenas a um post no Truth Social de distância.

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