Alegria e preguiça

2025-04-24 IDOPRESS

Banca de jornal no Largo do Machado,em maio de 2022 — Foto: Lucas Tavares

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 23/04/2025 - 20:30

Revistas Estrangeiras: O Fascínio Cultural das Bancas Antigas

Nos anos áureos das bancas de revista,elas eram como uma "internet ao vivo",oferecendo informações diversas em várias línguas. O texto nostálgico relembra o prazer de adquirir revistas estrangeiras como Vogue,National Geographic e The New Yorker,cada uma com seu apelo único. As edições eram caras,mas justificadas como investimento cultural. A autora reflete sobre a experiência de folhear revistas,um hábito que,embora caro e muitas vezes não totalmente aproveitado,enriquecia sua vida cultural e pessoal.

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Houve uma época em que o meu programa favorito de fim de semana era almoçar com os amigos no sábado,até tarde,e,depois,passar na banca da General Osório para comprar revistas estrangeiras. Sim: comprar revistas. Alguém ainda se lembra do que era uma boa banca de revistas? Aliás,alguém ainda se lembra do que era uma revista?

Uma Vogue de 916 páginas (setembro de 2012,um recorde,acabo de consultar o Google,pesava mais de dois quilos; passou meses ao lado do sofá e não me lembro de ter conseguido folhear tudo); uma National Geographic com capa holográfica (aconteceu pela primeira vez em 1984,com a foto em 3D de uma águia,e todos nós,leitores,achamos que ali estava o caminho para o futuro,mas o fenômeno só se repetiu em 1988,com a Terra vista do espaço,e nunca mais); uma Vanity Fair com as fotos assombrosas de Annie Leibovitz (todas elas,mas em 1991 uma Demi Moore nua,grávida e esplendorosa mudou para sempre a forma como a gravidez era vista,ou permitida,na mídia); uma The New Yorker sempre muito atrasada,mas com capas que mereciam ser emolduradas (em setembro de 2011 fiquei sem ar quando vi a capa completamente negra de Art Spiegelman,em que mal e mal se divisava,num tom apenas um ponto mais claro,a sombra das duas torres).

As revistas importadas eram absurdamente caras,mas não era difícil inventar desculpas para justificar o rombo no orçamento. A National Geographic era necessária,a The New Yorker era tão bem escrita que devia ser leitura obrigatória para qualquer jornalista,a Vanity Fair idem,até porque trazia verdadeiras aulas sobre a arte de fazer perfis e entrevistas,a Vogue… bem,a Vogue eu nem sempre conseguia explicar para mim mesma — lembrando que,além de tudo,eu comprava montes de revistas de fotografia e de informática,mas um ser humano precisa de assuntos variados para se divertir na vida,e a Vogue era sempre assunto.

E mais The Face,L’Officiel,Elle,Architectural Digest,Colors,i-D,Interview,Spy,Granta,Rolling Stone…

A mais cara de todas era disparado a FMR,toda preta,que só chegava ao Brasil de vez em quando,e era tão bonita,mas tão bonita,que curava qualquer desgosto momentâneo com a vida (FMR,as iniciais do editor Franco Maria Ricci,se liam “éphémère” em francês,“efêmera”: dá para ser mais chique?) —,mas essa eu considerava um investimento em cultura e pronto.

Os pecados mais explícitos,menos justificáveis,eram as revistas de turismo,como a Condé Nast Traveller ou a Bell’Italia. Essas eu comprava porque,afinal,para que servem as tentações? Foram elas que me trouxeram até aqui essa semana,porque eu estava assistindo a “The White Lotus” e a fotografia da série é tão espetacular que me lembrou essas revistas de sonho; depois eu conto o que achei,porque estou no quarto episódio e ainda estou achando.

As bancas eram uma espécie de internet ao vivo: a gente entrava e encontrava informação sobre tudo,em todas as línguas.

É lógico que ninguém dava conta de ler tanta revista; eu certamente não dava,porque tinha o olho maior do que o tempo,e ainda por cima gastava o resto do dinheiro todo com livros,seguindo a lógica meio torta de que não fazia sentido gastar mais dinheiro com revistas do que com livros.

É,eu sei.

Não me perguntem como consegui sobreviver a mim mesma.

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