Negociações com EUA (e Rússia) para paz na Ucrânia impõem desafios a Zelensky

2025-03-12 IDOPRESS

Presidente da Ucrânia,Volodymyr Zelensky,antes de reunião com líderes europeus em Bruxelas — Foto: NICOLAS MAETERLINCK / BELGA / AFP

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GERADO EM: 11/03/2025 - 18:32

Zelensky enfrenta pressão em negociações de cessar-fogo na Ucrânia

Volodymyr Zelensky enfrenta desafios complexos nas negociações para um cessar-fogo na Ucrânia,mediado pelos EUA. Pressionado a fazer concessões,Zelensky busca equilibrar a pressão interna e externa. Apesar de um cessar-fogo temporário de 30 dias estar em discussão,o impasse com a Rússia continua,com questões sobre concessões territoriais e a influência de Donald Trump complicando a diplomacia.

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A proposta para um cessar-fogo temporário na Ucrânia,apresentado pelos EUA e válido por 30 dias,foi um dos passos mais importantes para encerrar um conflito que,ao longo de três anos,deixou centenas de milhares de mortos e causou uma ampla devastação em solo ucraniano. Kiev deu seu aval após uma reunião com representantes americanos na Arábia Saudita,mas falta combinar com os russos,que dizem "não descartar" contatos com Washington "nos próximos dias".

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Mas o anúncio deixou evidente a posição delicada do presidente ucraniano,Volodymyr Zelensky. Ele está sob pressão da Casa Branca para fazer concessões territoriais e econômicas,da Rússia,com suas bombas e avanços militares,e dos próprios ucranianos,que não querem uma paz a qualquer custo. Sua margem de ação é cada vez mais estreita.

Nas conversas em Jedá,a proposta de cessar-fogo que prevaleceu não era exatamente a que queria Zelensky: antes do encontro,ele defendia uma pausa nos combates por ar e por mar,citando os ataques contra instalações energéticas,enquanto condicionava a suspensão das operações terrestres a garantias de segurança de seus aliados ocidentais.

Em declarações na véspera,afirmou que um cessar-fogo total e sem garantias daria tempo ao Kremlin para “curar os feridos,recrutar infantaria da Coreia do Norte e recomeçar esta guerra”. Ao final,foi voto vencido,e apoiou uma pausa completa e válida por 30 dias,a partir da concordância dos russos. Por outro lado,obteve a retomada da ajuda militar e de inteligência dos EUA,e avançou nas discussões sobre um acordo que abre caminho para os americanos explorarem os recursos minerais do país.

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Apesar dos apertos de mãos e sorrisos,Zelensky sabe que a relação com a Casa Branca não será exatamente um conto de fadas como os resgatados por Alexander Afanasyev no século XIX. Desde seu retorno ao poder,o presidente Donald Trump sinaliza que vê em Moscou,não em Kiev ou Bruxelas,o caminho preferencial para resolver a guerra.

As críticas a Zelensky são recorrentes,e já incluíram comentários sugerindo sua renúncia e zombando de sua popularidade (Trump usou um número falso,4%,quando na verdade o apoio era superior a 50%) — no final de fevereiro,os dois bateram boca no Salão Oval,no dia em que deveria ser assinado um acordo sobre o acesso aos minerais. Em seguida,Trump suspendeu a ajuda militar e o acesso ucraniano à inteligência americana,uma decisão derrubada nesta terça-feira.

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Mas os ataques,ao invés de enfraquecerem Zelensky,lhe deram um impulso no momento ideal. A falta de soluções para o conflito,disputas internas e questões sobre sua legitimidade — seu mandato terminou em maio do ano passado,mas a lei marcial em vigor impede novas eleições — tinham levado sua popularidade,em dezembro,ao nível mais baixo desde a invasão. Após a discussão,houve um salto nos índices de aprovação e nas declarações de apoio interno.

Mesmo entre seus rivais,o discurso era um só: os arroubos do republicano não eram apenas contra alguém cujo primeiro cargo público foi o de presidente de um país que enfrentou uma pandemia e uma guerra,mas sim contra toda a Ucrânia.

— Algumas pessoas esperavam que eu criticasse Zelensky — disse Petro Poroshenko,ex-presidente,rival de Zelensky na eleição de 2019 e um crítico mordaz do atual governo. — Mas não,não haverá críticas,porque não é disso que o país precisa agora.

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O ex-comandante das Forças Armadas ucranianas e apontado como o principal rival de Zelensky em uma futura eleição,Valery Zalujny,quebrou seu silêncio como embaixador ucraniano no Reino Unido para atacar os EUA em um discurso na Chatham House,em Londres na semana passada.

— É óbvio que o não reconhecimento da agressão russa por Washington também é um novo desafio não apenas para a Ucrânia,mas também para a Europa. Então,isso é o suficiente para entender que não são apenas a Rússia e o Eixo do Mal que estão tentando destruir a ordem mundial,mas também os Estados Unidos,de fato,estão finalmente destruindo-a — declarou,em uma fala que,segundo analistas,teve o aval de Zelensky.

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Hoje não há pedidos robustos por eleições antes do fim da guerra,muito embora integrantes da oposição tenham se reunido com representantes do governo Trump. Em seus avanços contra Zelensky,o presidente americano disse que ele era um “ditador",apesar de sua manutenção no cargo estar dentro da lei.

Em declarações à rede BBC,ucranianos também declararam apoio a Zelensky na disputa com a Casa Branca,afirmando que Trump e Vance “foram muito rudes”,e que a impressão final “foi a de que Washington apoia a Rússia”. De acordo com uma pesquisa divulgada no dia 4 de março,a aprovação do presidente é de quase 70%,um patamar que não era visto desde dezembro de 2023.

O momento positivo no cenário doméstico,como sabem bem os veteranos da política ucraniana,não é eterno,e os olhares estarão ainda mais afiados sobre as próximas ações de Zelensky. Trump e o líder russo,Vladimir Putin,querem que Kiev faça concessões territoriais em um acordo definitivo,envolvendo as terras tomadas por Moscou desde fevereiro de 2022 — segundo estimativas,20% do território ucraniano estão sob controle russo. Isso sem contar o acesso aos recursos minerais.

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Marco Rubio,secretário de Estado americano,afirmou antes da reunião de terça-feira em Jedá que “será muito difícil para a Ucrânia em qualquer período de tempo razoável forçar os russos a voltarem para onde estavam em 2014”,citando o ano do início da guerra civil no leste do país e da anexação da Crimeia. Nas áreas conquistadas,o Estado russo já se faz presente,trocando sistemas legais,fiscais e educacionais,interferindo na programação das TVs e alterando os códigos de telefonia.

As mesmas pesquisas que confirmam o apoio a Zelensky apontam que os ucranianos não querem a paz a qualquer preço,e a maioria é contra a cessão de territórios,preferindo a manutenção das fronteiras de 1991,ano da independência. A recusa de Trump de permitir o acesso ucraniano à Otan,antes uma condição pétrea,e a relutância da Casa Branca em oferecer garantias de segurança contra uma nova invasão também pesam negativamente — para analistas,um acordo que soe como uma capitulação será um desfecho catastrófico para Zelensky e seus aliados (além da própria Ucrânia).

— A Europa e o mundo mais uma vez querem fechar os olhos e acreditar em um milagre,mas milagres não acontecem — afirmou à BBC Taras Chmut,chefe da Fundação Come Back Alive,que fornece treinamento e armas aos militares ucranianos. — Os países devem aceitar a realidade da situação e fazer algo a respeito. Caso contrário,vocês serão os próximos a desaparecer depois da Ucrânia.

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