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Ataque a minoria na Síria exige reação mundial
2025-03-11
IDOPRESS
Forças de segurança do governo da Síria montam guarda na província de Latakia — Foto: Omar HAJ KADOUR / AFP/10-03-2025
São gravíssimas as denúncias de violações de direitos humanos e limpeza étnica na Síria. Rússia e Estados Unidos convocaram uma reunião fechada do Conselho de Segurança da ONU para discutir a situação. Desde a semana passada,pelo menos 1.130 morreram,incluindo 830 civis,segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Embora os números não tenham sido verificados por instituições independentes,há relatos de execuções indiscriminadas,sobretudo na população de religião alauita,que predomina na região litorânea no oeste do país. A administração interina que assumiu o governo sírio depois da queda do ditador Bashar al-Assad em dezembro anunciou que investigará as denúncias. O mínimo a exigir é que cumpra a promessa sem encobrimentos.
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Por mais de 50 anos,a família Assad — alauita — governou a Síria com mão de ferro e de forma sanguinária,mas havia ao menos tolerância religiosa. Embora representem 10% da população,os alauitas ocupavam os principais postos nas Forças Armadas. Com a fuga de Assad em dezembro,assumiu o poder o grupo Hayat Tahrir al-Sham (Comitê pela Libertação do Levante,ou HTS),sob a liderança de Ahmed al-Sharaa. Nos últimos três meses,com objetivo de atrair apoio internacional,ele tem tentado se distanciar do passado jihadista do HTS — outrora afiliado ao Estado Islâmico e à al-Qaeda. Mas os eventos dos últimos dias mostram que a prática do HTS não tem correspondido ao discurso de Sharaa.
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Na quinta-feira,16 integrantes das forças de segurança do novo governo foram mortos por uma milícia pró-Assad na província de Latakia,onde se concentra a população alauita. A reação foi imediata. O HTS enviou para a região tropas de diferentes partes da Síria,reforçadas por recrutas de fora. No caos que ainda impera,a disciplina dessas tropas é errática. Em comum,todos têm desejo de vingança pelas atrocidades cometidas por Assad nas últimas décadas. Relatos,comprovados por fotos e vídeos,afirmam que centenas de civis — alauitas na imensa maioria,mas também cristãos — foram humilhados e sumariamente executados,entre eles idosos,mulheres e crianças.
No dia seguinte à queda do regime de Assad,o novo governo enviara representantes para tranquilizar a comunidade alauita. Isso não impediu que a população de Latakia e Tartus esteja desde então submetida a uma rotina de terror,com saques e roubos frequentes. O temor de que o governo interino seja incapaz de garantir a segurança de minorias se cristaliza a cada dia. Sharaa,o novo presidente,tem o desafio de unificar os vários grupos rebeldes sob um único comando. Para ter condição financeira,tenta estreitar relações com as grandes potências e cancelar as sanções econômicas impostas quando Assad estava no poder.
Ninguém conhece as intenções de Sharaa e do HTS. Seria ele um pragmático disposto a fazer valer a promessa de respeitar os direitos das minorias ou um radical islâmico ainda mais sanguinário que Assad? Espera-se que a anunciada decisão de cancelar uma operação militar litorânea seja verdadeira. E que o acordo para integrar as forças curdas às tropas do governo garanta um mínimo de estabilidade. Mas isso é incerto. A investida contra os alauitas também deixou sobressaltadas outras minorias espalhadas pelo território sírio. O espectro de uma nova guerra civil volta a assombrar o país.