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Acordar o mundo que dorme em nós
2025-02-27
IDOPRESS
Ney Matogrosso: exposição,filme,livro e show em estádio — Foto: Edilson Dantas
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 26/02/2025 - 20:06
"Ney Matogrosso: Arte sem Fronteiras"
A influência de Ney Matogrosso vai além da música e da representação LGBTQ+. Sua arte desperta questionamentos profundos sobre nossas vidas e escolhas. Sua origem na fronteira reflete a quebra de fronteiras em sua arte. A exposição no MIS de São Paulo celebra sua trajetória única,que desafia convenções e inspira liberdade de expressão e autenticidade.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Afinal,por que é que falamos tanto de Ney Matogrosso? Foi essa a pergunta que mais de um repórter me fez durante a abertura da exposição sobre Ney no MIS de São Paulo,há uma semana. Não parece,mas é uma ótima questão. Quase que por dependência,criamos sobre Ney,mais do que sobre qualquer outro artista,efemérides sem fim para tê-lo de volta o tempo todo. Em 2021 foram os 80 anos. Justo. Em 2023,os 50 anos do primeiro disco dos Secos & Molhados. Boa. Em 2025,os 50 anos do início de sua carreira solo. O.k. Em 2026 podemos escolher essa aqui: os 50 anos de quando Ney,de batom,olhos delineados e chapéu de vaqueiro,lançou o disco “Bandido” com um show na Penitenciária Lemos de Brito,no Rio. Com um detalhe: foram os presos que pediram.
É aí,nos presos querendo ver Ney Matogrosso,que,para mim,mora a resposta. Enquanto amamos Caetano,Milton,Gil,Djavan,Paulinho,Bethânia,Gal,Elis,Chico,Zeca,Adoniran,Racionais,Tom,João,Beth,Dona Ivone e tanta gente que traz a nós seus universos particulares,acessamos Ney não para entrarmos em seu mundo,mas para acordar o mundo que dorme em nós. É mais do que música e vai além do sair do armário. Ney não é um ídolo que nos faz olhar para o alto oferecendo bênção,mas um espelho colocado à nossa frente. Pense: qual outro artista nos faz perguntar: “Mas que diabos estou fazendo com a minha vida?”
Depois de lançar sua biografia,em 2021,deixei de querer segurar meu filho sob meu teto esperando que ele fosse algo que eu sonhasse (Ney saindo de casa aos 17 anos para ser o que o pai nunca sonhou),entendi que a empresa em que eu trabalhava exigia em troca de um pacote de segurança a liberdade de minhas ideias (Ney deixando as ambições dos Secos & Molhados para se lançar no desconhecido) e passei a pensar bem menos no que é que pensavam sobre mim (Ney se vestindo de homem de Neandertal diante do espelho,no banheiro do Aeroporto Santos Dumont,ao lado de executivos entrando e saindo).
Um homem nascido na fronteira leva todas as fronteiras dentro de si. Em vez de dividir algo,essas linhas imaginárias definidas por mapas são pontos de junção. Em Bela Vista do Mato Grosso,separada da vizinha Bela Vista do Paraguai pelo Rio Apa,se falava português,guarani e espanhol,tocava-se instrumentos indígenas,brasileiros e paraguaios e comia-se arroz carreteiro e sopa paraguaia (que não é sopa,mas uma espécie de torta). A fronteira dos transbordamentos está toda em Ney. Sua voz é de homem e de mulher,seu repertório junta Carmen Miranda com Barão Vermelho,seus 83 anos se acomodam em um corpo de 55 e seu espetáculo nasce nos limites da música e do teatro. Agora posso entender o desejo dos presidiários da Lemos de Brito. Nem que fosse por duas horas,eles só queriam se sentir livres.