Por que teto salarial não faz sentido no futebol brasileiro

2025-02-24 IDOPRESS

Everton,Gerson,Bruno Henrique,Léo Ortiz,Arrascaeta... Flamengo consegue melhor elenco em razão de bons salários — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

RESUMO

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GERADO EM: 23/02/2025 - 21:33

"Teto salarial no futebol brasileiro: inviável e desigual"

Querer implantar um teto salarial no futebol brasileiro,inspirado em ligas americanas,como NFL e NBA,é inviável devido às diferenças estruturais. Limitações gerariam fuga de talentos e desigualdade. O segredo é promover crescimento sustentável para todos os clubes,respeitando a realidade do mercado globalizado.

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Vira e mexe,alguém volta a falar em implementar o teto salarial no futebol brasileiro. Acontece muito depois de vitórias do Flamengo,não por acaso. Como o clube da Gávea virou máquina de imprimir dinheiro faz mais de uma década — e essa máquina independe de uma única fonte de receita,o que a torna sustentável —,rivais não veem outra saída para retomar a competitividade,senão limites orçamentários. Com recorrente inspiração nos esportes americanos.

A citação às ligas dos Estados Unidos é curiosa,pois aqui temos o costume de selecionar apenas uma parte do que se quer alcançar,não o todo. Torcedores e cartolas brasileiros gostariam de colocar em prática o teto salarial que a NFL e a NBA têm,no futebol americano e no basquete,mas desconsideram o resto: a estrutura societária das franquias e ligas,o draft de atletas,não haver acesso e rebaixamento,a ausência de concorrência internacional.

Digamos que os clubes brasileiros tivessem teto salarial e não pudessem pagar mais do que,sei lá,R$ 1 milhão por mês por jogador. Na soma de carteira de trabalho e direito de imagem. Supondo que todos fossem respeitar a regra,claro,sem trambiques,nem pagamentos por fora. Ou então que o teto fosse coletivo,de R$ 300 milhões por ano. Ambos os números estão bem abaixo do que Flamengo e Palmeiras podem pagar atualmente,baseados em suas receitas.

A primeira consequência é que,por ter o futebol um mercado globalizado de transferências de atletas,esses clubes perderiam jogadores para países sem restrições. Se hoje já é difícil concorrer com Arábia Saudita,Estados Unidos e Europa,o teto salarial pioraria. Isso é algo que os admiradores das ligas americanas desconsideram. NFL e NBA são únicas. Elas não têm concorrência internacional e concentram os melhores atletas,mesmo com suas limitações.

O segundo aspecto é que,por serem 30 franquias de uma liga fechada,sem Série B,os americanos podem se dar ao luxo de uma temporada péssima,sem punição financeira e esportiva exacerbada. Noutras palavras: um ano terrível no futebol americano ou no basquete não te leva pra segunda divisão,não reduz sua receita para menos da metade,não acaba com suas chances de contratar jogadores no ano seguinte. O futebol de bola redonda faz tudo.

Em terceiro lugar,nem mesmo as transferências ocorrem nos mesmos moldes. Clubes de futebol negociam as rescisões contratuais de jogadores alheios,pagam multas e precisam fazer promessas de salários maiores para convencê-los a migrar. Franquias americanas trocam atletas entre si. Luka Doncic foi trocado pelo Dallas Mavericks com o Los Angeles Lakers,embora fosse ídolo e atleta do primeiro há sete anos,sem saber previamente da negociação.

Os americanos ainda têm,nas universidades,a formação de seus atletas,que são distribuídos entre os times por meio do draft. As franquias de pior desempenho esportivo da temporada passada são privilegiadas na escolha dos jogadores do ano seguinte. Enquanto nós temos categorias de base próprias e individuais de cada clube,que investem e concorrem entre si.

É por terem constituído um sistema totalmente diferente do futebolístico,sul-americano ou europeu,que os americanos fazem o teto salarial funcionar em seus esportes. Querer que o futebol brasileiro tenha um salary cap,é como inventar de meter um braço robótico num corpo orgânico sem qualquer compatibilidade. A solução para a competitividade está no crescimento sustentável de todos os clubes,cada um à sua maneira. Sem mágica.

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