Prêmio Jovem Cientista: conheça os vencedores da categoria Ensino Superior

2025-02-14 IDOPRESS

Primeiro lugar na categoria Estudante do Ensino Superior,Arienny Carina Ramos com a Ministra da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI),Luciana Santos — Foto: Brenno Carvalho

RESUMO

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GERADO EM: 13/02/2025 - 22:16

"Estudantes premiados por projetos científicos inovadores"

Estudantes vencem o Prêmio Jovem Cientista com projetos sobre assédio sexual no ambiente virtual,automação de hortas urbanas e controle de arboviroses. As pesquisas destacam a importância da conscientização,sustentabilidade e integração de dados para enfrentar desafios atuais.

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A internet pode revelar diversas formas de violência,mesmo quando as vítimas não percebem que acontece. Foi a partir dessa reflexão que a estudante Arienny Carina Ramos Souza,de 23 anos,graduanda em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Pará (IFPA),desenvolveu um projeto de iniciação científica que levou o primeiro lugar na categoria Ensino Superior do 30º Prêmio Jovem Cientista.

O estudo analisa a dinâmica do assédio sexual de professores contra estudantes do sexo feminino no ambiente virtual e começou a ser desenvolvido com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A ideia da pesquisa “Gênero e poder no ciberespaço: a dinâmica do assédio sexual contra estudantes do sexo feminino nas redes sociais on-line” nasceu a partir de denúncias de alunas do próprio IFPA no campus Belém. O estopim foi um protesto contra um professor de Química do instituto,acusado de estuprar uma aluna em 2022.

— Eu comecei a enxergar o assédio sexual como um ritual que,no contexto contemporâneo do ciberespaço e de tecnologias digitais de internet,não somente favorece como também precede o assédio sexual físico — explica Arienny.

A pesquisa envolveu a revisão de literatura e a análise de denúncias divulgadas na imprensa brasileira e na página do Facebook “Meu professor abusador”,entre os anos de 2016 e 2024. O objetivo foi compreender como o assédio ocorre nas interações digitais,muitas vezes disfarçado de elogios ou abordagens aparentemente inofensivas.

O estudo revelou que as alunas eram assediadas com o envio de mensagens constrangedoras,de fotos e vídeos de cunho sexual,por meio do WhatsApp,do Facebook e do Instagram. Também eram feitos convites incessantes para sair e propostas de sexo em troca de benefícios acadêmicos.

Afirmação de poder

O estudo identificou que o assédio sexual no ciberespaço está ligado à afirmação de poder e controle,perpetuando normas hierárquicas que favorecem os assediadores,em sua maioria professores do sexo masculino. A investigação analisou 12 casos relatados na página “Meu professor abusador”,mas também contou com a participação de alunas do campus Belém do IFPA.

As estudantes responderam a um formulário eletrônico que coletou 22 depoimentos de experiências de assédio sexual no ambiente digital entre outubro de 2023 e abril do ano passado. As respostas foram coletadas em turmas do ensino médio nos cursos técnicos de Agrimensura,Eletrotécnica e Química. O formulário foi apresentado também a estudantes de turmas de graduação em Letras (Português) e História do campus Belém do IFPA.

Os dados apontam que mulheres negras oriundas de escolas públicas e de camadas economicamente desfavorecidas são vistas como mais vulneráveis pelos assediadores. A condição também influencia a falta de disposição das vítimas em denunciar os abusos,que acabam não buscando ajuda por se sentirem mais vulneráveis.

Arienny desenvolveu uma cartilha para ajudar estudantes a reconhecer situações de assédio sexual no ciberespaço. O material também apresenta estratégias para poder evitar esses episódios e incentiva a formação de uma consciência crítica entre mulheres e meninas,além de ensinar como as vítimas podem denunciar esses professores dentro da escola,na universidade e à polícia.

— Ter o reconhecimento do prêmio é algo que sonho desde quando era uma garotinha do ensino fundamental que queria fazer ciência. Vencer com esse trabalho que busca a segurança de mulheres é muito especial — diz Arienny.

2º lugar: Samuel Ferreira da Silva

À esquerda,o vencedor do 2º lugar na categoria Estudante do Ensino Superior,Samuel Ferreira,com a Ministra da Ciência,Luciana Santos — Foto: Brenno Carvalho

Filho de agricultores,Samuel Ferreira da Silva,bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina,sempre esteve atento às dificuldades que pequenos produtores rurais enfrentam com a tecnologia. Auxiliando os pais no campo,percebeu que,além do alto custo dos equipamentos,o receio de usá-los era uma barreira para muitos.

Motivado por esse desafio,Samuel desenvolveu um projeto voltado a hortas urbanas,promovendo a sustentabilidade ambiental e econômica. “Automação de hortas residenciais urbanas: estudo de caso de uma residência” conquistou o segundo lugar na categoria Ensino Superior do 30º Prêmio Jovem Cientista.

A proposta busca solucionar o desperdício de água e energia causado pela irrigação manual ineficiente. Durante o desenvolvimento do trabalho,o pesquisador construiu um protótipo de baixo custo que otimiza o processo de irrigação,integrando o sistema automatizado a uma cisterna.

A criação de Samuel usa o microcontrolador ESP32,de baixo custo e que consome pouca energia,associado ao FreeRTOS,sistema operacional de código aberto. O conjunto do hardware foi conectado à plataforma de software livre Sinric Pro,que tem integração com a assistente virtual Alexa.

Uma interface gráfica facilita o monitoramento e controle,permitindo que usuários sem experiência técnica operem a automação da irrigação. O estudo demonstrou que a adoção de sensores interconectados em um ambiente de internet das coisas contribui significativamente para a sustentabilidade na produção de alimentos em espaços urbanos.

— O estudo torna a automação agrícola acessível a um público amplo,incluindo pequenos produtores e moradores de áreas urbanas. A solução permite que usuários gerenciem a irrigação via aplicativos — explica Samuel.

Os sensores integrados ofereceram respostas rápidas e precisas sobre variações ambientais,racionalizando o uso da água e da energia. O sistema também foi eficiente para monitorar e regular a umidade do solo,evitando o desperdício e melhorando o crescimento das plantas.

O engenho de Samuel se revelou acessível até mesmo a pessoas com pouca familiaridade com tecnologia. O filho de agricultores pretende continuar o projeto em um programa de mestrado,aprimorando a coleta de dados por sensores e preparando o protótipo para manufatura. Entre os aperfeiçoamentos previstos está um servidor centralizado para aumentar a eficiência e a segurança.

— Ganhar o prêmio representa pra mim um processo transformador na sociedade em relação à ciência e à tecnologia,e também um incentivo para continuar desenvolvendo soluções inovadoras e inspiradoras para o nosso país — celebra.

3º lugar: Gabriel Rocha Schuab da Silva

Na foto: 3º lugar na categoria Estudantes do Ensino Superior,Gabriel Rocha,Luciana Santos — Foto: Brenno Carvalho

Cria de Duque de Caxias,na Baixada Fluminense,e apaixonado por saúde pública,o biotecnólogo Gabriel Rocha Schuab da Silva,de 26 anos,ganhou o terceiro lugar na categoria Ensino Superior com sua pesquisa que ressalta o papel da integração de dados na tomada de decisões para o controle e prevenção das arboviroses,como a dengue,a chikungunya e a zika,no Estado do Rio.

Formado pela UFRJ e mestrando em Medicina Tropical pela Fiocruz,Gabriel Schuab passou a ver novas dimensões sobre a coleta de dados relacionados a arbovírus — transmitidos por insetos como mosquitos,carrapatos e aranhas — após participar de pesquisas em laboratório com o coronavírus SARS-CoV-2.

O pesquisador elaborou o projeto “Integração de dados de interesse na investigação da dispersão dos principais arbovírus circulantes em cada região do estado do Rio de Janeiro — Uma abordagem de saúde digital”,que combina dados epidemiológicos,climáticos,populacionais e genômicos para compreender a dispersão dos arbovírus no estado.

A análise de dados revelou padrões sazonais de surtos entre 2015 e 2023. Picos significativos de dengue ocorreram em 2015,2016 e 2019,mas surtos de zika e chikungunya apresentaram dinâmicas distintas. O estudo mostrou que a integração de bases de dados é essencial para medidas de controle para diferentes regiões fluminenses,já que áreas menos populosas surpreendentemente apresentaram maior incidência de arboviroses.

— Com os dados em mãos,os órgãos competentes podem desenvolver uma plataforma que faça uma análise automática e em tempo real de cada região para identificar como é a circulação desses vírus e tomar as medidas de controle preventivas específicas — explica Schuab.

Análises de semelhanças genéticas indicaram múltiplas entradas desses vírus no Rio,aumentando a disseminação de novas cepas no estado. Outra descoberta relevante foi a baixa correlação entre mudanças climáticas e a circulação de arbovírus,sugerindo que outros fatores podem ser mais determinantes na propagação dessas doenças.

Vigiar para prevenir

A pesquisa também reforçou a importância do acompanhamento de agentes causadores de doenças infecciosas em áreas mais vulneráveis. A integração de dados permite disseminar informações com maior eficácia,incentivando a população a aderir a campanhas de vacinação contra a dengue,cuja adesão ainda é baixa. A imunização é vista como um fator essencial para reduzir o impacto da doença e fortalecer a imunidade coletiva da população.

— Receber esse prêmio demonstra que eu fiz a escolha certa,que eu sou realizado academicamente e na batalha pela defesa do SUS — comemora o mestrando da Fiocruz.

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