Entenda como a designação de cartéis como ‘organizações terroristas’ pelo governo Trump pode prejudicar a economia dos EUA

2025-02-14 IDOPRESS

Donald Trump,presidente eleito dos EUA,durante coletiva em Mar-a-Lago,16 de dez. de 2024 — Foto: Maddie McGarvey/The New York Times

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GERADO EM: 13/02/2025 - 15:08

Trump rotula cartéis como "organizações terroristas": impacto na economia dos EUA e do México

A designação de cartéis como "organizações terroristas" por Trump pode afetar a economia dos EUA e do México,levando empresas americanas a interromper negócios no país vizinho. Isso poderia resultar em multas,impactando setores como o financeiro e o agrícola,além de afetar empresas que dependem de trabalhadores mexicanos. Além disso,a medida pode desencadear ações militares sem consentimento mexicano,minando décadas de colaboração no combate aos cartéis.

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O decreto do presidente dos Estados Unidos,Donald Trump,que designa cartéis mexicanos e outras organizações criminosas como terroristas estrangeiros pode forçar algumas empresas americanas a deixarem de fazer negócios no México para evitar sanções dos EUA,segundo ex-funcionários do governo e analistas. O desdobramento,se concretizado,pode ter um grande impacto em ambos os países,dada a profunda dependência econômica entre eles.

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A ordem de Trump foi feita ainda em janeiro,horas após o republicano assumir a Presidência. O objetivo,segundo analistas,era exercer pressão máxima sobre o México para conter o comércio de drogas,embora a designação também dê ao governo americano mais poder para impor penalidades econômicas,restrições de viagens e,potencialmente,até mesmo iniciar ações militares em países estrangeiros. Passadas três semanas,a administração Trump agora se planeja para anunciar quais grupos criminosos receberão essas designações.

O decreto fazia referência,em geral,aos cartéis do México. Mas também mencionava o Trem de Arágua — organização com origem na Venezuela que atua em ao menos oito países sul-americanos,segundo a Interpol — e Las Maras Salvatrucha (MS-13) — gangue criminosa fundada em Los Angeles,mas que tem origem em organizações criminosas de El Salvador e que desempenha um papel menor no tráfico transnacional de drogas.

Além desses dois grupos,o Departamento de Estado planeja designar o Clã do Golfo,com sede na Colômbia,e outros cinco grupos no México. As organizações mexicanas que devem ser designadas são o Cartel de Sinaloa,o Cartel Jalisco Nova Geração,o Cartel do Nordeste,a Família Michoacán e os Cartéis Unidos,segundo autoridades americanas. Trump descreve os cartéis como uma ameaça ao “Hemisfério Ocidental” e à segurança nacional do país — e fez do problema uma questão central durante sua campanha presidencial.

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Desvincular as operações dos cartéis dos interesses dos Estados Unidos no México,no entanto,pode ser complicado. O México é o maior parceiro comercial dos EUA em bens,e muitas empresas americanas têm operações de manufatura no país vizinho. Além disso,essas redes criminosas expandiram suas operações para além do tráfico de drogas e do contrabando de pessoas,de modo que agora também estão inseridas em uma ampla gama da economia legal que vai desde o cultivo de abacates até a indústria bilionária do turismo.

— Isso já foi discutido em administrações anteriores de diferentes espectros políticos e por membros do Congresso que queriam implementar essa medida — disse Samantha Sultoon,ex-conselheira de políticas e sanções e financiamentos de ameaças nos governos Trump (2017-2021) e de Joe Biden (2021-2025). — Mas ninguém seguiu adiante porque analisaram as implicações para o comércio e as relações econômicas e financeiras entre México e EUA. Todos concluíram que essa designação seria precipitada e mal planejada.

Consequências para os EUA

A designação de cartéis como organizações terroristas estrangeiras pode levar a uma série de penalidades,incluindo multas substanciais,apreensão de bens e acusações criminais contra empresas e indivíduos. Empresas americanas poderiam ser penalizadas por pagamentos feitos a empresas mexicanas que,sem seu conhecimento,sejam controladas por cartéis. Alguns pagamentos feitos por extorsão,mesmo sob coerção,também poderiam ser considerados “apoio material” aos cartéis.

Ex-funcionários do governo americano e analistas destacaram que seria quase impossível identificar quais negócios podem empregar ou estar associados a membros de cartéis,dada a vasta rede de pessoas envolvidas em vários setores,incluindo o hoteleiro e o agrícola. Os cartéis usam a economia legal para lavar dinheiro,o que significa que trabalhadores de hotéis ou de uma empresa de embalagem de abacates,por exemplo,podem estar tecnicamente na folha de pagamento do cartel,mas sem saber.

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Como resultado,empresas do setor financeiro americano,por precaução,podem simplesmente se recusar a transferir dinheiro para fábricas mexicanas,comprometendo a produção e o comércio transfronteiriço. Bancos também poderiam optar por evitar setores considerados de alto risco,segundo Fabian Teichmann,advogado suíço especialista em financiamento ao terrorismo. Ele citou a indústria de abacates do México,onde os cartéis expandiram consideravelmente sua atuação,como um dos setores de maior escrutínio.

— Os bancos podem evitar clientes porque podem não querer correr o risco de se envolver com qualquer coisa vinculada ao México — disse Eric Jacobstein,ex-funcionário do Departamento de Estado na administração Biden.

Outras instituições financeiras que facilitam pagamentos entre os Estados Unidos e o México também poderiam ser afetadas,como Venmo ou PayPal,co-fundado pelo aliado de Trump,o bilionário Elon Musk. A designação terrorista poderia ainda empurrar grandes partes da economia mexicana para a informalidade,onde predominam transações em dinheiro,dificultando a investigação das estruturas financeiras dos cartéis.

Penalidades para empresas

Em 2024,a Câmara Americana de Comércio no México entrevistou 218 empresas,e 12% dos entrevistados disseram que “o crime organizado assumiu parcialmente o controle das vendas,distribuição e precificação de seus produtos”. A produtora multinacional de bananas Chiquita Brands,foi considerada responsável,no ano passado,por assassinatos cometidos por um grupo paramilitar colombiano designado como organização terrorista.

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Na ocasião,a empresa alegou que foi extorquida e obrigada a fazer pagamentos para proteger seus funcionários na Colômbia. No entanto,os demandantes argumentaram que a empresa pagou ao grupo paramilitar para expulsar moradores e adquirir terras a preços baixos. Em 2017,a gigante americana tinha confessado perante os tribunais ter financiado a organização de extrema direita Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) entre 1997 e 2004.

A designação terrorista também prejudicaria empresas americanas dentro dos EUA que dependem de trabalhadores mexicanos. A designação é tão ampla e vaga que ranchos no Texas ou fazendas na Califórnia poderiam ser atingidos pelas penalidades se seus funcionários enviassem remessas de dinheiro para membros da família no México que estivessem envolvidos com o crime organizado.

Se empresas de transferência de dinheiro,como Western Union,também interromperem transações para o México por medo de sanções,as remessas — que representam quase 5% do PIB mexicano — poderiam ser severamente impactadas. O México recebeu US$ 63,3 bilhões em remessas em 2023.

Forças militares

A designação também poderia abrir caminho para que os Estados Unidos enviassem forças militares ao México para combater organizações criminosas,sem o consentimento do governo mexicano — como ocorreu no Afeganistão e na Síria. No entanto,esses países apresentavam circunstâncias diferentes: os Estados Unidos ocuparam o Afeganistão,e a Síria perdeu o controle de partes de seu território. Isso deu a Washington respaldo legal para operações especiais contra líderes terroristas.

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O México,tem cooperado com os Estados Unidos há mais de 30 anos no combate aos cartéis. Caso os EUA violem sua soberania,o México pode ameaçar encerrar essa colaboração,como já foi visto em ocasiões anteriores. Quando promotores americanos prenderam o ex-secretário de Defesa do México durante o primeiro governo Trump,o governo mexicano suspendeu toda a cooperação com a Administração de Fiscalização de Drogas (DEA,na sigla em inglês).

— Uma ação unilateral seria catastrófica — disse Craig Deare,especialista em Segurança Nacional. — Isso desmantelaria qualquer colaboração e décadas de esforços republicanos e democratas para construir uma relação de defesa com o México. Se você acha que a cooperação já é difícil agora,espere até que o México corte todos os laços.

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