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Conheça a história de ‘Shy Moon’, sucesso Caetano Veloso e Ritchie que, 40 anos depois, foi regravado pelos dois
2025-02-14
HaiPress
Os cantores Caetano Veloso e Ritchie — Foto: Leo Aversa
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 13/02/2025 - 18:11
Ritchie regrava "Shy Moon" de Caetano Veloso: parceria inesperada encanta e promete novas apresentações.
O cantor Ritchie regravou "Shy Moon",sucesso de Caetano Veloso de 1984. A nova versão,com arranjo diferenciado em valsa 6/8,encantou Caetano,elevando a beleza da canção. A parceria inesperada resgata memórias e promete novas apresentações juntos,mantendo a essência da música que mistura elementos barrocos e celtas.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Este ano,o cantor inglês Ritchie completa 50 anos desde que iniciou oficialmente sua carreira. “Eu já era músico antes,mas foi em 1975 que tirei minha carteira da Ordem dos Músicos do Brasil e gravei um disco ‘autoral’ pela primeira vez,já cantando em português,com a banda Vímana (ao lado dos jovens Lulu Santos e Lobão)”,recordou-se ele,em postagem recente nas redes sociais. No dia 15 de março,ele estreia no Vivo Rio a turnê “E a vida continua…”,cantando grandes sucessos e dando sequência ao seu retorno aos palcos,em 2024.
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Mas,antes disso,o músico promove um acerto de contas com sua própria história: hoje chega ao streaming,pela gravadora Biscoito Fino,“Shy moon”,regravação feita em maio do ano passado da canção de Caetano Veloso lançada com algum sucesso em 1984,no LP “Velô”,do baiano. Se,na versão de 84,o inglês,então recém-transformado em fenômeno no Brasil por causa do estrondoso sucesso do LP “Voo de coração” (de hits como “Menina veneno” e “A vida tem dessas coisas”),entrara apenas no dueto vocal,na de 2025 ele colabora também com flauta e a ideia do arranjo.
Segundo Ritchie,o tal arranjo novo,no compasso de 6/8 de uma valsa,começou a ser criado em 1992,pelo baixista Jorge Helder,para um show acústico seu. Depois,ele o incorporou aos shows de sua banda elétrica,o manteve na gravação do seu DVD de 2009,e seguiu com ele até os dias de hoje. Caetano ainda não tinha ouvido a versão de Ritchie até dezembro de 2023,quando recebeu uma homenagem na sede da União Brasileira dos Compositores (UBC),no Rio de Janeiro.
— Lá,muitos colegas meus cantaram músicas minhas. O número de Ritchie me impressionou pela qualidade da execução: canto,flauta,banda,tudo soava em um nível de profissionalismo internacional. Claro,Ritchie é inglês. Mas a música foi elevada a um patamar que me impressionou e comoveu — conta Caetano,em entrevista por e-mail.
Em maio,os dois se encontraram novamente,no estúdio de Caetano,no Vidigal,para registar o dueto da versão.
— Inicialmente,Caetano estranhou,não lembrava da letra,porque era uma música que ele não cantava desde o show do “Velô” — reparou Ritchie.
Mas o baiano foi só elogios:
— O arranjo novo em 6/8 elevou o nível de beleza da canção. E o tratamento que Ritchie deu com a voz e a flauta fez o resto.
Autor de célebres canções em inglês,na época do exílio londrino,como “London,London”,“You don’t know me”,“Nine out of ten” e “Maria Bethânia”,Caetano entrara pelos anos 1980 disposto a não seguir compondo na língua estrangeira (“A língua inglesa tem milhões de canções maravilhosas,não precisa de mim. E eu não preciso da língua inglesa,porque eu tenho a língua portuguesa,que eu trato bem o quanto posso”,justificou-se na época”). Até que,em Salvador,veio “Shy moon”.
— Acho que eu estava bêbado quando comecei a compô-la,saindo de um bar que ficava no Largo do Rio Vermelho. Depois de pronta,eu duvidava se era boa para ser gravada. Ritchie surgiu na minha cabeça como uma motivação para aprovar. Eu o convidei e ele,para minha alegria,topou gravá-la. Procurou cantar suavemente e ficou bem bonita — resume Caetano.
Ritchie ouviu “Shy moon” no show “Velô”,que Caetano fez antes de gravar o disco.
— Até então,eu não conhecia o Caetano pessoalmente,só o seu trabalho. Fui ao show e,aproveitando o fato de que eu tinha acesso aos camarins,por causa do sucesso de “Menina veneno”,fui lá dizer o quanto eu tinha gostado daquela música — recorda-se hoje o inglês. — Ele disse que ela não ia entrar no disco,porque estava inseguro quanto à letra,achava ingênua. Eu falei: “Sou inglês,adorei,acho a letra linda,poética.” E pedi para gravá-la,caso ele não quisesse.
‘O barroco e o celta’
Um mês depois,de madrugada,toca o telefone na casa de Ritchie. Era Caetano chamando-o para o estúdio,onde ele gravava “Língua” com Elza Soares. E assim os dois acabaram registrando “Shy moon”,que entrou na trilha sonora da novela “Um sonho a mais”,tocou um tanto nas rádios e ganhou clipe do “Fantástico”. Em 2024,de novo no estúdio,os dois riram muito lembrando que nas filmagens foram obrigados a usar umas roupas de astronautas,e,segundo Ritchie,saíram “derrubando muros num planeta estranho”.
— Acho que a ideia era de criar uma simbologia,uma alegoria do estrangeiro no Brasil com sua tentativa de derrubar os muros da MPB — arrisca ele,que na nova gravação de “Shy moon” toca flauta,que na original era de Zé Luiz (músico que tinha feito o saxofone de “Menina veneno” e depois,por coincidência,foi para a banda de Caetano). — Eu queria reverenciar a gravação original,a flauta faz a liga entre as partes dessa música que mistura o barroco e o celta.
“Shy moon” deve estar ainda no disco ao vivo que Ritchie grava este ano. E Caetano diz não ser impossível que ele mesmo volte a cantá-la nos seus shows:
— Mas só se Ritchie vier cantar comigo,com aquela voz segura e aquela flauta minuciosa. Reproduzindo o 6/8 da gravação dele.