As discussões sobre golpe de Estado na cúpula militar no fim do governo Bolsonaro

2024-11-30 HaiPress

Freire Gomes,ex-comandante do Exército; Jair Bolsonaro; e Paulo Sérgio,ex-ministro da Defesa — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Em um dos diálogos captados pela Polícia Federal na investigação da trama golpista que se desenrolou no final do mandato de Jair Bolsonaro,dois coronéis que assessoravam a cúpula do Exército conversam sobre a disposição do Alto Comando de aderir a um golpe de Estado.

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Em 16 de outubro de 2022,Fabrício Bastos,que trabalhava no Centro de Inteligência do Exército,diz que Bolsonaro tinha que mandar prender “todo mundo no STF e no TSE” por conta de decisões da Corte Eleitoral contra a campanha de Bolsonaro. Mas Bernardo Romão Correa Netto,que era assistente do Comandante Militar do Sul,diz que isso não aconteceria porque o Alto Comando (ACE) não queria. “O ACE tem sido enfático nas afirmações de que devemos nos manter de fora das disputas políticas”,diz ele. “Foram várias VC (videoconferências) do general Freire Gomes com o ACE para falar sobre isso.Eles nao entendem da mesma forma que nós,velho”.

Nos meses seguintes,os dois coronéis mergulhariam de cabeça na conspiração para impedir a posse de Lula – e uma vez descobertos e presos,passaram a ser vistos pelos generais como traidores. Mas o relato que faziam sobre o que se passava no interior do Alto Comando estava correto.

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Segundo generais com quem conversei nos últimos dias,a ofensiva golpista de Bolsonaro passou a ser discutida no segundo semestre em todas as reuniões da cúpula,que reúne os 16 generais de quatro estrelas,mas nunca se usava a palavra golpe. “Nós não discutíamos propriamente golpe,falávamos sobre a situação de instabilidade do país e a tentativa de nos envolver na disputa. Todos diziam que devíamos ficar afastados da política,e se alguém não concordava ficava quieto”,diz um general que integrava o Alto Comando naquela época.

O mesmo relato é corroborado por outro general de quatro estrelas com quem conversei. “O assunto não entrava na pauta,mas sempre se falava a respeito na parte reservada para a discussão de conjuntura”. De acordo com esse oficial,até hoje se especula na cúpula militar quem poderiam ser os três generais que queriam muito o golpe – segundo outro coronel,Reginaldo Vieira de Abreu,na época assessor no Palácio do Planalto no governo Bolsonaro,afirma num áudio captado pela PF. “Se queriam,nunca disseram abertamente”,comenta esse general.

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Apesar do aparente consenso contra o envolvimento dos generais na aventura bolsonarista,quando os acampamentos nas portas de quartéis cresceram país afora,ficou claro que havia uma divisão no comando.

Parte dos generais insistia nas reuniões para que o comandante,general Marco Freire Gomes,retirasse os manifestantes do entorno dos quartéis. Freire Gomes,porém,respondia que o Exército não deveria “se meter” e nem “chegar perto” do assunto.

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Parte da cúpula concordava com ele,e por isso ao final chegou-se a um acordo de que,enquanto os acampamentos não interferissem na vida dos quartéis,poderiam continuar. Por “não interferir” se entendia não atrapalhar a liberdade de ir e vir,não danificar o patrimônio e nem atrapalhar as atividades do dia-a-dia.

Mas como nada foi feito,os acampamentos continuaram e aumentaram até o final de dezembro. Só começaram a diminuir quando Bolsonaro deixou o país rumo aos Estados Unidos,em 31 de dezembro de 2022,último dia do mandato.

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Para um dos generais ouvidos pela coluna,permitir os acampamentos foi um erro. “Não fazer nada foi entendido por aquelas pessoas como um indicador de que estávamos apoiando”.

Foram esses debates internos que vazaram para o jornalista Paulo Figueiredo,então na Jovem Pan,que divulgou no ar uma lista de generais apelidados de melancias – verdes por fora,mas vermelhos por dentro – que estariam contra Bolsonaro e a favor da esquerda. Entre esses generais estavam o atual comandante de Lula,Tomás Paiva,e os generais Richard Nunes e Valerio Stumpf (que já foi para a reserva).

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Segundo a investigação da PF,convencer a cúpula militar a aderir ao plano era essencial para que o golpe fosse adiante,e os vazamentos de nomes de generais que eram contra uma virada de mesa fazia parte do plano para tentar dobrar a resistência do Alto Comando a apoiar as pretensões de Bolsonaro.

Veja quem são os indiciados pela Polícia Federal

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Jair Messias Bolsonaro,ex-presidente da Repúblic — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

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Alexandre Rodrigues Ramagem,policial federal,ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

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Angelo Martins Denicoli,ex-diretor no Ministério da Saúde e ex-assessor na Petrobras — Foto: Reprodução

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José Eduardo de Oliveira e Silva,padre — Foto: Reprodução

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Almir Garnier Santos,ex-comandante da Marinha do Brasil — Foto: Reprodução

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Ailton Gonçalves Barros,ex-militar e advogado — Foto: Reprodução

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Alexandre Castilho Bitencourt da Silva — Foto: Reprodução

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Amauri Feres Saad,advogado — Foto: Reprodução

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Anderson Gustavo Torres,ex-ministro da Justiça e Segurança Pública — Foto: Reprodução

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Augusto Heleno Ribeiro Pereira,ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência — Foto: Agência Brasil

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Bernardo Romão Corrêa Netto — Foto: Reprodução

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Carlos Cesar Moretzsohn Rocha,Dono do Instituto Voto Legal (IVL) — Foto: Reprodução

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Cleverson Ney Magalhães,militar — Foto: Reprodução

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Filipe Garcia Martins Pereira,ex-assessor de Bolsonaro — Foto: Reprodução

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Guilherme Marques Almeida,ex-chefe da seção de Operações Psicológicas no Comando de Operações Terrestres — Foto: Divulgação

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Laércio Vergílio — Foto: Reprodução

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Marcelo Costa Câmara,ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — Foto: Reprodução

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Fernando Cerimedo,influencer dono do canal La Derecha Diario — Foto: Reprodução

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General Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira — Foto: Divulgação/Exército

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General Mario Fernandes — Foto: Reprodução/Youtube

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Mauro Cesar Barbosa Cid,ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

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Nilton Diniz Rodrigues,comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva — Foto: Reprodução

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Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho,empresário,neto de João Baptista Figueiredo,último presidente da ditadura — Foto: Reprodução

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Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira,ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército — Foto: Agencia Brasil

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Rafael Martins de Oliveira,tenente-coronel do Exército — Foto: Reprodução

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Tércio Arnaud Tomaz,ex-assessor especial de Bolsonaro — Foto: Reprodução

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Valdemar Costa Neto,presidente do PL (partido de Bolsonaro) — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

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Walter Souza Braga Netto,ex-ministro da Casa Civil e da Defesa — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo / Arquivo

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Wladimir Matos Soares,policial federal — Foto: Reprodução

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Fabrício Moreira de Bastos,ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social de Bolsonaro e do 52° Batalhão de Infantaria de Selva do Exército,em Marabá (PA) — Foto: Reprodução

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Publicidade PF reuniu indícios que conectam o ex-presidente Bolsonaro às articulações com teor golpista de impedir a posse do presidente Lula

O relatório final do inquérito da trama golpista elenca quatro reuniões de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta do golpe.

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Mas o comandante do Exército,general Freire Gomes,e o da Aeronáutica,Carlos de Almeida Baptista Junior,se recusaram a aderir. Em depoimento à PF,Freire Gomes declarou que reagiu a Bolsonaro dizendo que,se ele fosse adiante na tentativa de impedir a posse de Lula,seria obrigado a prendê-lo.

Freire Gomes,não relatou nenhuma dessas reuniões ao Alto Comando. Guardou segredo sobre o que se passava na época,mas foi obrigado a contar tudo para a PF.

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