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'Kamala, como Lula em 2022, está convencendo eleitores de que é a candidata da mobilidade social', diz Clifford Young
2024-09-03 HaiPress
Clifford Young — Foto: Divulgação
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 03/09/2024 - 04:31
Análise: Kamala Harris pode vencer Trump nas eleições dos EUA
Clifford Young,presidente da Ipsos nos EUA,destaca a eficiência da campanha de Kamala Harris sobre Donald Trump,prevendo sua vitória no Colégio Eleitoral e no voto popular. A comparação com Lula e Bolsonaro é feita,apontando a mobilidade social como diferencial. O debate entre Kamala e Trump é visto como crucial,com foco na economia e empatia com eleitores. A análise destaca a importância dos temas inflação,imigração e aborto. A competição acirrada em estados-pêndulo é ressaltada,com Kamala ganhando terreno em regiões antes favoráveis a Trump. O especialista destaca a incerteza do cenário eleitoral e a necessidade de observar a apuração nos estados-chave. A conclusão ressalta que,apesar da vantagem atual de Kamala,muitos acontecimentos ainda podem influenciar o resultado final.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Presidente da Ipsos nos Estados Unidos,Clifford Young vê a campanha de Kamala Harris mais eficiente do que a de Donald Trump na busca dos eleitores indecisos,cruciais na decisão de quem comandará a maior potência do planeta a partir de janeiro. E que,se o pleito fosse hoje,a democrata venceria no Colégio Eleitoral e no voto popular. “Mas 3/9 não interessa e sim 5/11”,pondera.
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Em conversa por chamada de vídeo,o especialista em eleições americanas vê no primeiro debate entre a democrata e o republicano,que acontece em exatos sete dias,a possibilidade de Kamala consolidar seu crescimento nas pesquisas,“com mapa eleitoral mais amplo”,ou o retorno a quadro mais parecido com o duelo de Trump com Biden,com a decisão nos três estados decisivos da Muralha Azul — Pensilvânia,Michigan e Wisconsin.
– No debate,Kamala,para vencer,terá de aguentar firme os ataques e provocações de Trump e deixar claro que tem empatia pelos que vêm sofrendo com a inflação mais alta. E Trump precisa de foco,falar de seus planos para a economia e mostrar que a vice faz parte do mesmo governo Biden. Ele tem sido ineficaz em passar mensagem óbvia — diz Young,que aponta o despreparo no flanco republicano e o efeito emocional do atentado contra a vida do ex-presidente como prováveis razões para a “ineficácia da retórica de Trump” desde a confirmação da mudança na cabeça de chapa democrata.
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Clifford Young também faz comparação curiosa da corrida pela Casa Branca com a disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro:
— Como Lula no segundo turno,Kamala consegue neste momento mostrar para o eleitor como conseguirá aumentar sua mobilidade social. E Trump não tem feito com mesmo êxito a réplica de que ela já estava no governo nos últimos quatro anos.
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O executivo está na capital paulista,onde veio apresentar duas palestras,uma no último fim de semana,no festival Expert XP,e outra nesta terça-feira,a partir das 14h,na sede da Ipsos,em Pinheiros. Os principais trechos da conversa com O GLOBO,por chamada de vídeo,segue abaixo:
O que Kamala precisa fazer para vencer o debate da próxima terça-feira,dia 10?
Ela tem duas tarefas básicas. A primeira,se mostrar presidencial. Que consegue aguentar os ataques e provocações de Trump. O arroz com feijão da líder de fato. Em segundo lugar,precisa enfrentar a questão da inflação de forma direta,pelo menos deixar claro que tem empatia pelo que os eleitores estão sofrendo. Este é hoje o principal problema dos americanos e o tema que deu mais dor de cabeça ao presidente Joe Biden. A inflação era uma das âncoras que mais jogavam os números dele para baixo.
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E o senhor avalia que,até o momento,nos comícios,no rascunho de plano batizado de “economia de oportunidade” e na entrevista à CNN,Kamala está se saindo melhor do que Biden em economia?
Ela está na direção certa para conquistar os eleitores indecisos. O que ela apresentou já foi muito mais eficaz do que a retórica e ações de Biden. O desempenho da campanha dela tem sido melhor do que a de Trump em quase tudo. Agora ela precisa enfatizar e detalhar ainda mais seus planos para a economia.
E para Trump,qual a melhor estratégia para o debate?
Ele precisa de foco. Precisa se concentrar nos problemas do país. Tem vantagem,por exemplo,em economia,em todas as pesquisas,os americanos confiam mais nele quando pensam com o bolso,e Trump poderia estar falando de economia,depois de economia,e quando cansasse,mais uma vez de economia. Mas ele não tem feito isso,ao contrário. Penso nas eleições presidenciais do Brasil em 2022,no segundo turno. A campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mais enfática e eficiente do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro em mostrar ao eleitor como seu governo afetaria diretamente sua mobilidade social. É o que Kamala está fazendo neste momento.
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A comparação é muito interessante,só que quem tinha a caneta do governo na mão no Brasil era Bolsonaro. Nos EUA,a chapa governista é a democrata. Kamala se apresenta como a novidade,ajudada pelo fato de seu adversário ter passado quatro anos na Casa Branca,mas não seria fácil para Trump defini-la como apenas uma outra face do mesmo governo Biden?
Esse é o ponto crucial desta disputa até o momento. Kamala está na frente das pesquisas por conta da energia do novo,suas vibrações são as melhores possíveis. Mas Trump segue à frente nos fundamentos da eleição,especialmente na confiança sobre a gestão da economia,com a inflação mais baixa durante seus anos na Casa Branca. A aprovação do governo Biden-Kamala é baixa,em torno de 40%. Ou seja: Trump deveria estar sensivelmente à frente nas pesquisas. Deveria falar sem parar o tempo todo,repito,da inflação Biden-Kamala. E mostrar que o governo é ela. Mas não tem feito isso.
E por que a campanha republicana não consegue apresentar uma retórica eficaz contra Kamala?
É uma resposta difícil,mas não se pode subestimar o efeito emocional do atentado contra a vida do ex-presidente no comício na Pensilvânia pouco antes da Convenção Nacional Republicana. Ele parece ter ficado mais ensimesmado desde então. E foi complexo para ele essa mudança radical do roteiro. Ele e a campanha não acreditavam de fato na mudança de candidatos e se prepararam para enfrentar Biden. Tiveram uma enorme dificuldade para se adaptar à nova realidade. Faltou agilidade.
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Além da inflação,os dois outros temas centrais para os eleitores nos sete estados-pêndulo,que aparecem em pesquisas como a da Universidade Siena,para o New York Times,são imigração e direito ao aborto. É o que os seus números mostram também?
Os nossos mostram inflação à frente e em seguida a proteção à democracia e depois,perto,a imigração. Aborto aparece com muito mais destaque em estados que irão votar sobre o tema,como é o caso de dois decisivos este ano,Nevada e Arizona. Quando está na cédula tem um peso diferente,mobiliza o voto. De qualquer modo,a discussão em torno do direito ao aborto tal qual está sendo feita vem reforçando a credibilidade,a seriedade de Kamala Harris. E o vaivém de Trump,suas falas truncadas sobre o tema,o tem prejudicado muito,criado ruídos. Nas margens,tirando os dois estados mencionados,o direito ao aborto pode ter um efeito nacional,e,como a disputa é muito apertada,ajudar a definir o vitorioso.
Nevada e Arizona são estados do Cinturão do Sol que,pelas pesquisas,quando Trump enfrentava Biden,sequer estavam em jogo,com vantagem clara para o republicano. Mas Kamala agora é competitiva em Georgia,Carolina do Norte,Arizona e Nevada. Há mesmo um outro caminho para os democratas além da Muralha Azul de Wisconsin,Michigan e Pensilvânia?
As pesquisas,hoje,mostram que Kamala abriu mesmo o mapa. O que não sabemos ainda,precisamos esperar até o fim dessa semana,ou melhor,até o pós-debate,se esta foi uma empolgação momentânea ou se é algo real. É o dilema entre vibração e solidificação da intenção de voto. Se essa fosse uma eleição normal,arriscaria a dizer que os números da democrata iriam murchar e que os democratas deveriam focar na Muralha Azul. Mas essa não é,em quase nada,uma eleição ordinária.
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E em quais destes sete estados decisivos devemos prestar mais atenção quando o voto começar a ser apurado?
Na Pensilvânia,especialmente nos votos ao norte da Filadélfia,e na Geórgia,nos entornos das maiores áreas urbanas. Serão os dois primeiros indicativos de para onde a noite vai. É o voto do subúrbio. Mas também a Flórida,especificamente a área da Baía de Tampa e de São Petersburgo. Trump é favorito no estado,mas a questão é que margem conseguirá abrir lá. Se os democratas tiveram nessa área da Flórida mais votos do que o esperado,é senha para uma ótima noite deles quando as urnas se fecharem nos outros estados do Cinturão do Sol. Já se não conseguirem levar gente para os locais de votação,será o oposto. E o resultado,lá,sairá cedo.
Se as eleições fossem hoje,quem venceria no Colégio Eleitoral e no voto popular?
Kamala e Kamala. Mas 3/9 não interessa,e sim 5/11. Até lá,muita coisa ainda pode acontecer.