Yorgos Lanthimos fala sobre ‘Tipos de gentileza’, nova colaboração com Emma Stone: ‘A realidade consegue ser mais louca do que aquilo que tentamos criar’

2024-08-23 HaiPress

Emma Stone em cena de “Tipos de gentileza”,sua terceira colaboração com o diretor Yorgos Lanthimos (a quarta,“Bugonia”,chega em 2025) — Foto: Divulgação

RESUMO

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GERADO EM: 23/08/2024 - 03:31

Yorgos Lanthimos aborda realidades perturbadoras em "Tipos de gentileza" e fala sobre seu próximo projeto "Bugonia" com Emma Stone e Jesse Plemons.

Yorgos Lanthimos fala sobre seu novo filme "Tipos de gentileza",destacando a realidade mais perturbadora que sua ficção. O longa apresenta histórias chocantes que exploram a dinâmica de poder entre pessoas. Com atores interpretando diferentes papéis em três segmentos,o filme desafia o espectador e reflete o mal-estar humano. Lanthimos,conhecido por sua originalidade,prepara-se para seu próximo projeto,"Bugonia",com Emma Stone e Jesse Plemons,enfatizando a importância da liberdade criativa em suas produções.

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Membros de uma seita religiosa disputam o privilégio de se banhar numa banheira cheia das lágrimas de seu líder. Uma mulher corta um dedo e parte do fígado para servi-los ao marido,como prova de fidelidade. Um homem droga a ex para abusar sexualmente dela. “Tipos de gentileza” está repleto de situações como essas,ora perturbadoras,ora bizarras,que parecem testar o estômago do espectador. Mas o filme,que chegou aos cinemas brasileiros na quinta-feira (22),é apenas mais uma forma de seu autor,o grego Yorgos Lanthimos,de “Pobres criaturas”,expressar o mal-estar da condição humana.

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— Sempre acho que estamos no extremo em meus filmes. Mas a realidade consegue ser mais louca do que aquilo que tentamos criar — disse o cineasta no último Festival de Cannes,em maio,de onde “Tipos de gentileza” saiu com o prêmio de melhor interpretação masculina (para Jesse Plemons).

O filme conta três histórias distintas,com o mesmo grupo de atores vivendo diferentes papéis,mas com um tema em comum: a dinâmica de poder entre as pessoas. A produção britânica coescrita pelo grego Efthymis Filippou,roteirista dos primeiros filmes do diretor,marca o retorno de Lanthimos,50 anos,às suas origens estilísticas. Surgido em meio à “Onda Grega”,o realizador se distinguiu com dramas de inspiração surrealista,como “Dente canino” (2009),vencedor da mostra Um Certo Olhar de Cannes,“O lagosta” (2015) e “O sacrifício do cervo sagrado” (2017),ambos estrelados por Colin Farrell.

Emendando filmagens

O novo filme chega aos cinemas oito meses depois do lançamento de “Pobres criaturas”,o filme anterior do diretor,fantasia feminista que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado. A vitória na mostra italiana era o início de uma jornada bem-sucedida,que culminou no Oscar de 2024,de onde saiu com quatro estatuetas — direção de arte,figurino,maquiagem e melhor atriz,para Emma Stone,de volta em “Tipos de gentileza”. Aparentemente,não houve descanso para as equipes entre os dois filmes.

— O processo de pós-produção de “Pobres criaturas” foi muito longo,envolvia vários tipos de efeitos especiais. Na época,eu e Efthymis já tínhamos terminando o roteiro de “Tipos de gentileza”,um projeto antigo. Pensei: em vez de ficarmos esperando,por que não rodamos um novo filme? — ri Lanthimos.

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Em “Tipos de gentileza”,Jesse Plemons,Emma Stone e Williem Dafoe ressurgem como personagens diferentes a cada segmento. Na primeira história,Plemons é um homem que permite que seu patrão (Dafoe) controle todos os aspectos de sua vida — o que come,o momento para ter filhos —,até que se recusa a matar um estranho. No segundo,Plemons é um policial que desconfia de que a mulher (Stone),bióloga marinha que desapareceu durante uma missão científica,é uma impostora,e a testa de forma cruel. Na última,Plemons e Emma são membros de uma seita,liderada por Dafoe,incumbidos de encontrar uma mulher capaz de ressuscitar os mortos.

Na origem do projeto,havia uma única história,a que mostra a relação entre patrão e empregado. A primeira inspiração foi “Calígula”,romance histórico de Allan Massie sobre o “imperador louco”. Mas,ao longo dos anos,a ideia se expandiu e chegou aos tempos atuais.

— A questão principal era: como um homem pode ter tanto poder sobre aqueles em torno de si? Comecei a imaginar alguém,nos dias de hoje,que teria controle total sobre outra pessoa. Reunimos outras ideias de personagens semelhantes e decidimos por três delas — contou Lanthimos. — A decisão de usar os mesmos atores nas três histórias nos levou a escrevê-las individualmente,e não em narrativas paralelas,e vimos que ficaram bem mais fortes.

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Há uma única constante no mundo estranho e trágico de “Tipos de gentileza”: um personagem misterioso,de participação muito discreta em cada episódio,conhecido apenas pelas iniciais RMF,interpretado por Yorgos Stefanakos,um tabelião público e amigo de Lanthimos e de Filippou. O papel foi tirado de um projeto para um curta-metragem que os dois nunca chegaram a realizar. RMF tem função crucial no primeiro segmento — o homem que o personagem de Plemons deve matar —,o que levou seus criadores a expandir sua função no longa.

Lanthimos conta que agregou ao elenco uma série de pessoas que conheceu durante a produção:

— A ginecologista da terceira história era uma garçonete do hotel em que estávamos. Ela tinha uma presença incrível! O chefe de polícia,que faz uma pequena participação mas acabou que tem uma das melhores falas do filme,era nosso diretor de transporte.

Jesse Plemons e o diretor Yorgos Lanthimos (à direita) nas filmagens de “Tipos de gentileza”: longa rendeu ao ator prêmio de melhor interpretação masculina este ano em Cannes — Foto: Divulgação

Próxima parada,‘Bugonia’

Lanthimos já se prepara para filmar um novo projeto,ficção científica inspirada em “Save the green planet”,um sucesso do cinema coreano lançado em 2003. É uma coprodução entre Estados Unidos e Coreia do Sul,a ser coprotagonizada por Emma Stone,em sua quarta contribuição com o diretor (a primeira foi “A favorita”,de 2018),e Plemons,que agora passa a integrar a “panelinha” de Lanthimos:

— Não sei se confio em mim mesmo,então tendo a me apegar àqueles com quem tenho afinidades criativas. Mas acho importante que,nesse meu círculo,entrem pessoas novas,gente que possa te ajudar a ir mais longe.

Hoje cortejado por grandes estrelas,Lanthimos é visto como parte da realeza de Hollywood,noção que se apressa em desfazer:

— Isso não existe. Comecei a fazer filmes em inglês para ter mais acesso a fundos e meios para que as obras circulem. Não me preocupo em fazer produção pequenas ou grandes,mas em ter liberdade criativa e trabalhar com gente em quem confio e que aprecio.

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